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CAU/RS e Vila Flores – Arquitetura como ferramenta da luta: o Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza

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A primeira matéria produzida pelo Vila Flores em parceria com o CAU/RS contou um pouco da história da Bienal de Veneza e da Bienal de Arquitetura de Veneza, que passou a ter uma exibição exclusiva a partir de 1980. Nesta segunda matéria, o objetivo é destacar aspectos que relacionam o Brasil à mostra internacional.

O Brasil na 15ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza

A 15º Bienal de Arquitetura de Veneza conta com a participação do Brasil em duas situações. A primeira na mostra principal, Reporting from the front, proposta pelo curador geral, o arquiteto e urbanista chileno Alejandro Aravena. Na mostra, o escritório paulista SPBR apresenta um projeto não construído de percurso expositivo de três quilômetros ao redor do parque Ibirapuera em São Paulo (SP). A segunda situação é a exposição “Juntos” no pavilhão do Brasil, proposta do curador nomeado Washington Fajardo* que apresenta 15 projetos Brasileiros de diferentes regiões e atuações com pontos em comum a respeito de metodologias participativas e processos inclusivos.

Histórico

A partir de 1950, na 25ª edição, Brasil começou a aparecer de forma mais expressiva nas mostras de arte da Bienal de Veneza, formando uma representação nacional para todas as edições seguintes. O pavilhão do Brasil, inaugurado na edição de 1964, é projeto dos arquitetos e urbanistas Henrique Mindlin e Giancarlo Palanti.

Em 1980, quando a arquitetura ganha edições exclusivas da Bienal, o pavilhão do Brasil passa a sediar também as exposições de arquitetura brasileira, que tem seus curadores escolhidos pela Fundação Bienal de São Paulo desde 1995.

Mostra “Juntos”

Este ano, a exposição do Brasil apresenta uma resposta à temática escolhida por Aravena com Reporting from the front. “São ferramentas de projeto necessárias para subverter as forças que privilegiam o ganho individual sobre o benefício coletivo”, define o curador geral da mostra internacional.

A mostra “Juntos” apresenta práticas para melhorias urbanas com processos de conquista da população, relacionando questões culturais e sociais e apontando a arquitetura como ferramenta dessas lutas. A discussão suscita temas bastante amplos que permeiam a arquitetura. Identidade negra, centralidades urbanas históricas, acesso à cultura através da arquitetura e de conteúdos de design: a busca pelo entendimento do que seria estarmos “Juntos”.

Os projetos expostos trazem à tona uma questão até então pouco explorada nos grandes debates do mundo arquitetônico: a arquitetura como ferramenta social em conquista de processos de bottom-up architecture (arquitetura de baixo para cima). “O pavilhão é composto dessas trajetórias e parcerias, do processo do encontro do ativista com o arquiteto e a arquitetura, imanados pela elaboração do novo espaço”, destaca Fajardo.

O pavilhão é organizado em duas salas. A primeira com o texto “Echos” retrata o amplo espectro humano e cultural brasileiro com fotos que buscam traduzir essa diversidade. A segunda com o texto “Juntos” tem uma seleção de obras bastante original, a maioria desconhecida do público em geral. Os 15 projetos estão expostos em maquetes e folhas coloridas de diferentes tamanhos em uma grande mesa central formando uma espécie de mosaico interativo que permite que o público destaque e leve os projetos para casa. As paredes comportam a parte audiovisual da mostra, com vídeos explicativos de três minutos.

“Esta não é uma mostra apenas de projetos, mas de processos e seus estados da arte, ora concluídos, ora por fazer, ora inacabados”, resume o curador da mostra. Clique aqui e confira imagens do pavilhão expositivo Giardini e entenda melhor como se estrutura fisicamente a Bienal e onde está inserida nossa exposição nacional.

Projetos expostos

Saiba mais os projetos participantes da mostra “Juntos”, com uma pequena descrição e ficha técnica. Além do Vila Flores, outro grande destaque é o projeto Casa da Vila Matilde, da Dona Dalva, de São Paulo (SP), reconhecido e premiado pela qualidade da obra residencial de baixo custo.

Vila Flores (Porto Alegre, 2012)

Um processo arquitetônico: ressignificação, coletividade e aprendizado na recuperação de patrimônio histórico e cultural de Porto Alegre.

  • Autores arquitetônicos: Goma Oficina
  • Autores culturais-institucionais: Associação Cultural Vila Flores

Selo de Qualidade Urbana Fundação Vale (2013)

Desenvolvimento de selo de qualidade com parâmetros balizadores de âmbito urbanos, espaciais e estruturais para melhoria dos empreendimentos minha casa minha vida destinados a interesse social.

  • Autor arquitetônicos: Nanda Eskes (Instituto Casa – Convergências de Arte Sociedade e Arquitetura)
  • Autores culturais-institucionais: Andreia Rabetim e Rosane Biasotto (Fundação Vale)
  • Instituições parceiras: Secretaria Nacional de Habitação/Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal, Fundação Bento Rubião, ETH Zurich, Unesco.

Parque + Instituto Sitie (Rio de Janeiro, 2005)

O design de acordo com as capacidades e recursos do contexto para maior impacto e empoderamento da comunidade nas soluções e tecnologias aplicadas no desenvolvimento do parque e instituto Sitiê.

  • Autores arquitetônicos: Pedro Henrique de Cristo e Caroline Shannon de Cristo (+D Studio)
  • Autores culturais-institucionais: Mauro Quintanilha, Paulo César de Almeida e a Comunidade do Vidigal

Parque de Madureira (Rio de Janeiro, 2012 – 2016)

O projeto visa criar um equipamento público sustentável, baseado em um Programa de Educação Socioambiental.

  • Autor arquitetônico: Ruy Rezende
  • Autores culturais-institucionais: Mauro Bonelli e Tia Surica

Circuito da Herança Africana (Rio de Janeiro, 2014)

Grupo de trabalho curatorial e arqueológico para construir coletivamente diretrizes para implementação de políticas de valorização da memória e proteção do patrimônio cultural de herança africana.

  • Autores arquitetônicos: Sara Zewde, Instituto Rio Patrimônio da Humanidade
  • Autores culturais-institucionais: Merced Guimarães, IPN, Damião Braga, Quilombo da Pedra do Sal, Pequena África, Tia Ciata, Giovanni Harvey, Grupo de Trabalho Curatorial do Projeto Urbanístico, Arquitetônico e Museológico do Circuito

Casa do Jongo (Rio de Janeiro, 2010-2015)

Projeto de adequação de centro cultural e sede da ONG Jongo da Serrinha.

  • Autores arquitetônicos: Pedro Évora e Pedro Rivera (Rua Arquitetos)
  • Autores culturais-institucionais: Dyonne Boy e Tia Maria (Ong Jongo da Serrinha)

Circo Crescer e Viver (Rio de Janeiro, 2014)

Projeto para o Circo Crescer e Viver com foco na arte e transformação social em seu picadeiro

  • Autores arquitetônicos: Rodrigo Azevedo (AAA_Azevedo Agência de Arquitetura) e Maxime Baron
  • Autores culturais-institucionais: Junior Perim e Vinicius Daumas

Escola Vidigal (Rio de Janeiro, 2013-2015)

Construção de escola para crianças em fase de alfabetização com enfoque na arte e tecnologia, implantada em área de vulnerabilidade para atender a crianças carentes.

  • Autores arquitetônicos: Brenda Bello e Basil Walter (BWArchitects)
  • Autor cultural-institucional: Vik Muniz

Escola Novo Mangue (Recife, 2000)

Implantação de escola pública na região do rio Capibaribe, com baixos recursos em área de vulnerabilidade social e desgaste ambiental, apresenta grande resultados pedagógicos sociais e de regeneração ambiental.

  • Autores arquitetônicos: Bruno Lima, Francisco Rocha, Lula Marcondes (O Norte -Oficina de Criação)
  • Autores culturais-institucionais: Comunidade do Coque Instituições parceiras: Unicef e ONG Umbu-Ganzá

Casa da Vila Matilde (São Paulo, 2011-2015)

Obra residencial de baixo custo, com maior controle e agilidade. Promovendo grande qualidade espacial e estrutural ao cliente com restrições econômicas.

  • Autores arquitetônicos: Danilo Terra, Pedro Tuma, Fernanda Sakano (Terra e Tuma Arquitetos Associados)
  • Autores culturais-institucionais: Dona Dalva Borges Ramos

Placas de Rua da Maré (Rio de Janeiro, 2012-2016)

Produção piloto das placas de rua em ação mobilizadora, convidando a população a um exercício de reconhecimento de seu bairro e sua identidade.

  • Autores arquitetônicos: Laura Taves (Azulejaria)
  • Autores culturais-institucionais: ONG Redes de Desenvolvimento da Maré

Ciclo Rotas do Centro (Rio de Janeiro, 2012-2015)

Projeto de implementação de ciclo rotas contou com a participação de representantes da sociedade civil, urbanistas, arquitetos e interessados em geral.

  • Autores arquitetônicos: Clarisse Linke (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento – ITDP Brasil), Zé Lobo (Transporte Ativo), Pedro Rivera (Studio-X)
  • Autores culturais: Ciclistas

Programa Vivenda (São Paulo, 2013)

Programa de crédito, atendimento e execução de reformas básicas para situação de vulnerabilidade e insalubridade na comunidade do jardim ibirapuera.

  • Autores arquitetônicos: Fernando Amiky Assad, Igiano Lima de Souza, Marcelo Zarzuela Coelho
  • Autores culturais-institucionais: Comunidade Jardim Ibirapuera

Complexo Jardim Edite (São Paulo, 2008-2013)

O conjunto Habitacional de interesse social projetado para ocupar o lugar da favela de mesmo nome situada em um dos pontos mais significativos para o recente crescimento do setor financeiro e de serviços de São Paulo

  • Autores arquitetônicos: Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga (MMBB), Eduardo Ferroni e Pablo Hereñú (H+F)
  • Autores culturais-institucionais: Miguel Luiz Bucalem (Secretário Municipal do Desenvolvimento Urbano), Elton Santa Fé Zacarias (Secretário de Habitação, 2009-2010), Ricardo Pereira Leite (Secretário de Habitação, 2010-2012), Elisabete França (Superintendente e Secretária Adjunta), Luiz Fernando Fachini (Coordenador de projetos)

Revista Piseagrama (Belo Horizonte, 2011)

Revista sobre espaços públicos: existentes, urgentes e imaginários a revista articula e promove relações interdisciplinares, sempre com foco na noção de público, promove também ações em torno de questões de interesse público.

  • Autores arquitetônicos: Fernanda Regaldo, Renata Marquez, Roberto Andrés e Wellington Cançado (editores); Felipe Carnevalli e Vitor Lagoeiro (editores assistentes)
  • Autores culturais-institucionais: Leitores
*Washington Fajardo é presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural e também assessor especial da prefeitura do Rio de Janeiro para assuntos urbanos.

Leia mais

Vila Flores – Preservação e uso contemporâneo do patrimônio histórico e cultural

Vila Flores e CAU/RS – Parceria para cobertura exclusiva da Bienal de Arquitetura de Veneza

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