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Os notórios arquitetos Carlos Maximiliano Fayet, Cláudio Luis Araújo e Moacyr Moojen Marques, mais conhecidos como Fayet, Araújo & Moojen – FAM, foram de suma importância para o modernismo brasileiro em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Eles são autores de projetos como o Auditório Araújo Vianna, na capital, e a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas. Seus acervos contribuem para resgatar a memória da Arquitetura Moderna no sul do país.
As enchentes que começaram no final de abril no Rio Grande do Sul deixaram um rastro de destruição. Entre os imóveis inundados está o Edifício FAM (Fayet, Araújo & Moojen, 1964/1968), local que preservava o acervo físico dos arquitetos, situado na Rua Dr. Vicente de Paula Dutra, nº 225, no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre.
O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB RS) cedeu espaço para a guarda e o trabalho de recuperação do acervo FAM, emergencialmente transportado pela família com o apoio de profissionais, logo após a enchente histórica de 2024 na capital. O DOCOMOMO Sul – Núcleo RS, em parceria com a Faculdade de Arquitetura e o Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FA/PROPAR/UFRGS), conseguiu o apoio institucional técnico da Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, do Sistema Estadual de Museus e do Museu Júlio de Castilhos para a execução do trabalho.
Recuperação e tratamento do Acervo FAM
O Centro de Memória do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS) atua no gerenciamento do processo de recuperação do acervo FAM, que conta com mais de 240 caixas de documentos. A museóloga do Centro de Memória do CAU/RS, Bárbara Hoch, é quem está à frente da organização das escalas de trabalho dos voluntários e linhas de tratamento. Com ela, trabalham os estagiários do Centro de Memória do CAU/RS, Pedro Moleda Bregatto e Renata Lewis Scotto.
O trabalho de recuperação foi dividido entre papel e fotografias, negativos e slides. Bárbara explica que o mais importante é pausar o processo de decomposição desses materiais e o congelamento, na maioria dos casos, é a melhor opção. Portanto, grande parte da massa documenal foi alocada em freezers.
Fotografias, negativos, slides e impressões hidrossolúveis em papel demandam um processo diferente, pois a imagem se perde muito rápido. “Esses itens não podem ser congelados. Precisam ser separados e secos. Então a força tarefa é essa: enquanto uma equipe trata fotografias, negativos, slides e obras de arte, a outra vai congelando o restante, como livros, documentos e pranchas ”, explica a museóloga.
Para determinadas camadas de informação não existe restauro, após os processos químicos que ocorrem em contato com a água. É preciso agir rápido para preservar a riqueza dos acervos atingidos pelas enchentes no estado.
Cicatizes nos acervos
“Os acervos atingidos pelas enchentes, assim como nós, vão carregar marcas. Eu acho que é um processo histórico interessante. Caso elas não contaminem o acervo ou as pessoas, como mofo, a gente pode optar por manter essas marcas nos objetos. Elas ficam como um registro da história do objeto no tempo. Talvez as pessoas não vejam as marcas dessa enchente na gente de novo, mas vão ver nos objetos. Então, eles também são prova do que a gente passou”, destaca Bárbara.
Será possível fazer o resgate de alguns conjuntos de acervos sem danos, mas muitos não vão escapar sem marcas. “A gente pode fazer tratamento químico para tentar anular essas marcas, mas precisa ser um tratamento bem cuidadoso, feito por conservador e restaurador, para evitar que a gente apague a informação tentando deixar o objeto limpo”, finaliza.
Se você tem interesse em contribuir com a recuperação do Acervo FAM, entre em contato com o professor Daniel Pitta. Para ajudar financeiramente, doe via Pix CNPJ 23.890.798/0001-90 ou transferência bancária:
Associação dos Colaboradores do DOCOMOMO Sul – Núcleo RS
Banco do Brasil | Conta: 54.879-0 | Agência: 1899-6 | CNPJ: 23.890.798/0001-90
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Fotos: Eugênio Barboza
Outros acervos: Fundação Pão dos Pobres e Ói Nóis Aqui Traveiz
O apoio no resgate e tratamento do acervo arquitetônico FAM está sendo coordenado pelo Centro de Memória do CAU/RS por meio da museóloga Bárbara Hoch. Além desse trabalho, ela voluntariamente está empenhada em processos semelhantes nos acervos da Fundação Pão dos Pobres, fundada em 1895, e do grupo de teatro Ói Nóis Aqui Traveiz, em atividade desde 1978.
A situação do acervo do Pão dos Pobres, que ficou submerso em alguns pontos em até 1,5m, é emblemática. Foi necessário arrombar, mesmo sem luz, arquivos e armários para tentar salvar documentos do surgimento da Fundação, que atendia 1.835 crianças e adolescentes em seus projetos atualmente. Entre os itens dos acervos estão fotografias de Sioma Breitman, ucraniano radicado no Brasil que registrou a enchente de 1941 na capital, e dos Irmãos Ferrari.
Todos os envolvidos no processo de recuperação dos acervos precisarão de cuidados: pessoas e objetos. “A gente tem que pensar em valorizar a história dos objetos pós-enchentes, como a gente vai aprender a lidar psicologicamente e como o acervo vai aprender a lidar fisicamente com os danos que sofreu”, resume a museóloga do CAU/RS.
Fotos: Eugênio Barboza e Rafa Dotti