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O Homem, o Arquiteto, o Político. Demétrio Ribeiro foi saudado em cerimônia ocorrida no IAB RS por todos os que, de alguma forma, tiveram contato com pelo menos uma das facetas do arquiteto e urbanista que completaria 100 anos em 1º de setembro de 2016. Falecido em 22 de outubro de 2003, Demétrio deixou um importante legado para a arquitetura gaúcha, com importantes projetos urbanísticos e edificações modernistas, influência de sua diversa formação.
O evento foi composto por duas mesas, uma de autoridades e outra de amigos. Na abertura, estiveram presentes o Prefeito de Porto Alegre, José Fortunati; a primeira-dama e deputada estadual Regina Maria Becker; a vereadora Jussara Cony; o presidente do IAB RS, Tiago Holzmann; o presidente do IAB Nacional, Sérgio Ferraz Magalhães; e o presidente o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), Haroldo Pinheiro.
Tiago Holzmann abriu a cerimônia e saudou a todos os presentes, destacando a importância da homenagem pelo justo reconhecimento da Arquitetura Moderna no Rio Grande do Sul com a assinatura do ato de homologação do tombamento do Colégio Estadual Júlio de Castilhos (“Julinho”) como patrimônio histórico da capital gaúcha. A atual sede do Colégio, inaugurada em 1958, é um projeto de Demétrio em parceria com Enilda Ribeiro, fruto de concurso público.
“Patrimônio não é apenas algo centenário ou bicentenário. Ele pode estar sendo construído hoje, pois representa a história e a arte de uma época. É preciso fazer hoje, tendo em vista as necessidades atuais e também os próximos anos, próximas décadas, assim como fez Demétrio”, ressaltou o presidente do IAB RS.
Em seguida, José Fortunati assinou o ato de tombamento do “Julinho”, iniciativa do IAB RS, que em três meses conseguiu, com o apoio do Conselho Municipal de Cultura e da Coordenação da Memória da Prefeitura de Porto Alegre, dar início e andamento ao processo. O Prefeito comentou sobre a importância do Colégio na formação de líderes e na excelência que fora o ensino público no Rio Grande do Sul. Também destacou a atuação político-partidária de Demétrio junto ao Partido Comunista Brasileiro.
Haroldo Pinheiro relembrou sua atuação junto ao IAB Nacional, quando pode homenagear Demétrio ainda em vida. O Colar de Ouro do Instituto de Arquitetos do Brasil condecora profissionais da área que se destacam por sua atuação em prol do desenvolvimento da Arquitetura no país e foi entregue ao arquiteto e urbanista em janeiro de 2003.
“Além da admiração pessoal, trago o abraço de todos os colegas arquitetos e urbanistas do Brasil. Demétrio era um arquiteto completo, que lutou pela criação de um conselho profissional para a categoria”, relembrou o presidente do CAU/BR.
Desde o final dos anos 50 havia a tentativa de regulamentar a profissão a partir de um conselho específico. O documento, elaborado naquela época, teve a participação de Demétrio e foi matriz para a criação Lei nº 12.378, de 31 de dezembro de 2010, que regulamenta o exercício da Arquitetura e Urbanismo e cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil e os Conselhos de Arquitetura e Urbanismo dos Estados e do Distrito Federal.
A solenidade de abertura do bate-papo com amigos de Demétrio encerrou com uma fala emocionada do presidente do IAB Nacional. “O Júlio de Castilhos era um lugar de formação plena e seu tombamento reconhece o valor da Arquitetura na construção da cidadania. Demétrio e Enilda foram meus professores na Arquitetura e na vida”, destacou Sérgio Magalhães.
Após, houve o descerramento da placa comemorativa ao centenário, que será instalada na sede do IAB RS. Clóvis Ilgenfritz, conselheiro da Comissão de Planejamento e Finanças do CAU/RS, esteve presente e acompanhou os depoimentos, sendo citado por sua atuação junto às entidades de arquitetos e ao trabalho desenvolvido ao longo das últimas décadas no CAU e no IAB. A neta de Demétrio, Miriam Ribeiro, representou a família e expôs o viés íntimo do Demétrio pai e avô.
O bate-papo “Demetrio Ribeiro: O Homem, o Arquiteto, o Político” começou na sequência, com participação de amigos e colegas como o economista Cláudio Accurso e os arquitetos Laís Salengue, Ivan Mizoguchi, Udo Mohr e Antônio Carlos Campelo Costa que trouxeram um relato de memórias.
Laís colocou que logo acrescentaria ao nome do encontro a palavra “O Professor”, pois além de arquiteto e urbanista, Demétrio foi um teórico e pesquisador propagador de conceitos. Accurso também não poupou elogios ao amigo. “O Demétrio é uma dessas pessoas que a gente sente falta no cotidiano. Ele sempre tinha uma coisa lúcida para dizer para a gente, sem nada queixas, sem queixumes. Ele olhava para a frente, sempre para a frente”, ressaltou.
Mizoguchi, por sua vez, chegou com um texto preparado, mas não menos acolhedor e emocionante. A sua fala fez menções a uma canção francesa, a um filme sobre a ditadura chilena e aos amigos para ambientar o momento. Amizade, memória e esquecimento deram o tom de seu discurso em homenagem a Demétrio. “Os amigos não nos deixam esquecer. Precisamos lutar contra o esquecimento e para isso existe a memória. Estamos aqui para isso, para relembrar Demétrio”, disse. Já Mohr e Campelo destacaram passagens bem-humoradas do relacionamento com o arquiteto.
No Prêmio Arquiteto e Urbanista do Ano 2016 da Federação Nacional dos Arquitetos (FNA), o trabalho de Demétrio e Enilda Ribeiro foi celebrado com a conquista na categoria “In Memorian”. Em vida, Demétrio Ribeiro recebeu os títulos de Professor e Cidadão Emérito, além do Colar de Ouro do IAB Nacional. Em função do seu centenário, no dia 4 de outubro haverá sessão solene em homenagem ao arquiteto e urbanista na Câmara Municipal de Porto Alegre.
Joaquim Haas, presidente em exercício do CAU/RS, lembrou dos bons exemplos dos que nos precederam e da responsabilidade que fica após a perda de cada um deles, lembrando também do recente falecimento de Cláudio Araújo, defensor da integração design-arquitetura no curso na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFGRS. “Assim como Demétrio, mais um dos fortes se vai, mais responsabilidade que fica sobre nossas costas”, finaliza Tiago Holzmann.
História
Demétrio nasceu em Alegrete, no Rio Grande do Sul, mas muito cedo se mudou com a família para Paris, na França, onde estudou até os treze anos de idade. Voltou ao Brasil por uma rota que passou pelo Uruguai, onde iniciou e concluiu a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, após prestar serviço militar em Porto Alegre por volta de 1935, período marcado pelo Centenário Farroupilha.
Nas palavras de Demétrio, “queriam que eu fosse engenheiro e acabou sendo um pouco isso. Não fui bem engenheiro, porque tinha esse gosto artístico, então me decidi pela Arquitetura, que era algo bem valorizado lá no Uruguai. Aqui, não: era coisa de alemão”.
O ano de 1943 marca o retorno do arquiteto ao Brasil para a revalidação do diploma no Rio de Janeiro. Na oportunidade, Demétrio conheceu Oscar Niemeyer. No ano seguinte, voltou a Porto Alegre para trabalhar na Secretaria de Obras e, assim, começou a trajetória que o tornou um dos grandes urbanistas brasileiros, trabalhando em Planos Diretores e repensando a paisagem urbana da cidade em parcerias como as com o colega e engenheiro Edvaldo Paiva e a companheira Enilda Ribeiro.
“Não há espaço arquitetônico sem pessoas. Sem elas, o arquiteto apenas sonha.” (Demétrio Ribeiro)