Getting your Trinity Audio player ready...
|
“O bom arquiteto deve ser um pouco sociólogo, filósofo, psicólogo, conselheiro sentimental, mediador de conflitos, artista e inventor. Cesar Dorfman é tudo isso”, revela o jornalista e escritor Rafael Guimaraens na apresentação de “Arquitecrônicas”, novo livro do arquiteto e urbanista gaúcho. No Brasil, são poucos os exemplos de uso da profissão do arquiteto e urbanista como tema para literatura. Segundo o arquiteto e urbanista Cesar Dorfman, o livro foi escrito pensando nesta lacuna.
Depois de uma experiência de mais de 50 anos como profissional autônomo e 34 como professor de Projeto, afora a participação nas entidades de classe, o autor resolveu dedicar um tempo para uma atividade que sempre lhe seduziu, a escrita. Neste segundo livro, sucessor de “Havana 63”, a experiência foi utilizada como base e a crônica como gênero adotado. São histórias vividas como aluno, profissional e professor somadas às histórias ouvidas de colegas e outras ficcionais. Boa parte das narrações engraçadas ocorrem com um personagem criado, o “arquiteto de Uruguaiana”.
“Arquitecrônicas” será lançado na 63ª Feira do Livro de Porto Alegre dia 3 de novembro, às 17h, na Sala Leste Santander. Haverá Sessão de Autógrafos às 18h30. O CAU/RS conversou com o escritor. Confira:
CAU/RS: “Arquitecrônicas” sucede “Havana 63”. Quando começou a escrevê-lo e quais as motivações?
Depois do primeiro livro consolidou-se a ideia, muito antiga, de escrever de forma constante e não apenas como episódio passageiro. Sempre quis me dedicar a escrever, porém faltava tempo. Após minha aposentadoria como professor, isso se tornou possível. Agora estou com vários livros em andamento, tentando recuperar o tempo perdido.
O “Arquitecrônicas” se insere na linha ligada a algo que sempre gostei de fazer, contar histórias. Assim foi com “Havana 63”. A diferença é que começo, aos poucos, a enveredar pela ficção. Neste, algumas crônicas não se baseiam em fatos vividos.
CAU/RS: Como guardar com tanta clareza as histórias até a publicação do livro?
Felizmente, tenho boa memória e só a partir dela é que escrevi, não havia nada, nem notas escritas e nem diários.
CAU/RS: Arquiteto de Uruguaiana. Fale um pouco sobre o personagem.
Gosto muito de um dos personagens criados pelo L. F. Veríssimo, o Analista de Bagé e pensei que poderia haver também um arquiteto “grosso”. A partir daí e da lembrança de alguns colegas que tive cursando a UFRGS e vindos do interior, comecei a esboçar o personagem. Porém, e quem ler disso vai se dar conta, o personagem toma vida própria e segue um caminho um pouco diverso, antepondo-se à ideia da “grossura”.
É de Uruguaiana porque não deveria ser de Bagé e ficar calcado em cima daquele do Veríssimo. Também porque convivi, em meu escritório, durante alguns anos, com um arquiteto de Uruguaiana.
CAU/RS: Qual a importância do encontro da arquitetura com a literatura?
Eu já tinha a experiência de fazer também música e, a partir desta experiência, consolidei a noção da interligação entre as expressões artísticas, que é muito forte. Penso que seria sempre benéfico incentivar os jovens arquitetos e urbanistas a realizarem esse tipo de ação. Ela ajuda a compreender melhor o processo criativo que guarda, sob todas as formas, similitudes.
CAU/RS: “Havana 63”, de alguma forma, também está presente nas memórias do “Arquitecrônicas”?
Pouco. Uma das crônicas fala desta epopeia inigualável.
CAU/RS: Participar da vida política da profissão – entidades de classe, Conselho Profissional – modificam a visão sobre a própria Arquitetura e Urbanismo? Isso pode ser, também, inspirador?
Não sei se atuar nos órgãos de classe ajuda na melhor compreensão da Arquitetura e do Urbanismo. No meu caso é uma questão de postura como cidadão. Vivemos em sociedade e, em função disto, temos que, obrigatoriamente, dar nossa contribuição para o desenvolvimento e melhora das condições de vida e, em particular, das condições de trabalho de nossa profissão. Isto só se consegue coletivamente. Isolar-se, olhar só para o próprio umbigo, não é só egoismo, é falta de visão. Só conseguimos mudar e melhorar nossas condições de trabalho atuando nas entidades. É por isto que sempre atuei no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), fui um dos fundadores do Sindicato dos Arquitetos no Estado do Rio Grande do Sul (SAERGS) e, posteriormente conselheiro eleito do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU).