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Foi com a mão no barro que um grupo de arquitetos e urbanistas e estudantes gaúchos enfrentou o frio do último sábado (19) para comprovar que as construções podem representar muito mais do que simples objetos. Seguindo a premissa defendida pelo arquiteto e urbanista paulista Tomaz Lotufo, que ministrou oficina sobre Arquitetura Integrada a Sistemas Biológicos neste final de semana em Porto Alegre, o time mostrou na prática que construir é um ato coletivo que carrega energia e simbologia. “Precisamos sair da lógica da arquitetura como objeto e entender que ela é processo. Isso dá qualidade e futuro”, pontuou. Lotufo defende a difusão do conhecimento para que comunidades de baixa renda tenham autonomia para suas próprias construções coletivas. O assunto também foi alvo de palestra realizada na noite de sexta-feira (18), no IMED, em Porto Alegre.
Os dois eventos integram o circuito SAERGS na Estrada 2018, uma agenda do Sindicato dos Arquitetos no Estado do Rio Grande do Sul (SAERGS) com apoio do CAU/RS. “Uma casa é um sistema de energias e precisamos pensar sobre ele, como empregar materiais de demolição e sair da obrigação de uso de revestimentos por exemplo, o que reduz o impacto ambiental”, pontuou. E foi além, lembrando que construções mais sustentáveis representam a migração de investimentos de materiais para mão de obra, o que, por si só, já garante maior distribuição de renda. “É preciso mexer com a cultura por meio de processos pedagógicos”, acrescentou.
Durante o oficina, profissionais e estudantes de várias partes do Rio Grande do Sul colocaram a mão na massa para confeccionar um forno de pizza de tijolos de demolição e terra crua, seguindo as premissas da permacultura. A proposta consiste em construir usando apenas elementos naturais e reaproveitados. Após a construção e reboco no forno, chegou a hora do grande teste. Tomaz Lotufo dedicou-se então a ensinar habilidades gastronômicas na produção de pizzas que, assadas no próprio forno, foram degustadas no início da noite em evento também na sede do Saergs. “A arquitetura envolve afeto e o ato de construir junto cria laços”, pontuou o palestrante, que defende um aprendizado diferente do que comumente se faz, como em um sistema bancário, onde o conhecimento é apenas “um depósito de conteúdo”.
O especialista, que trabalha com a chamada bioconstrução, lembra que o processo envolve a comunidade, crianças, idosos, e mexe com o intuitivo das pessoas. “Existe uma mudança de autonomia muito profunda nas comunidades. Tudo o que na minha casa é legal, nas comunidades é necessário”, citou lembrando da importância dessas produções em comunidades carentes em diferentes regiões do Brasil. E, nesse trabalho, alertou que a beleza pode ter um papel revolucionário. “Se a gente quer mudar o mundo por uma arquitetura de baixo impacto, a beleza é importante. Também tem que ser um processo divertido e ter afeto. Tem que ser gostoso, saudável e ético”.
Após o trabalho, a noite foi de confraternização. O evento reuniu mais de 40 pessoas, entre participantes da oficina, outros profissionais interessados e dirigentes do sindicato. “O sábado começou com chuva, frio, e parecia que ia ser difícil a coisa acontecer, porque o dia estava muito retraído. Mas, de repente, já começamos a mexer no barro e esquecemos completamente do frio e da chuva. A turma teve essa força toda… então, aquele lugar que era vazio virou um lugar cheio de gente, cheio de alma, cheio de vida. Foi 100% de envolvimento”, finalizou Lotufo.