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O CAU/RS passará a abrigar oficialmente o acervo do arquiteto e engenheiro Armando Boni. A assinatura do termo de doação pela família Boni foi feita no dia 17 de julho na sede do CAU/RS. Na mesma ocasião, o Centro de Memória do CAU/RS (CM) recebeu a coleção fotográfica do arquiteto e estudioso da arquitetura brasileira Nestor Torelly. O expressivo volume documental, doado pelo próprio autor, também deverá compor o acervo museológico de forma definitiva após avaliação da equipe técnica do CM.
A doação do acervo Boni foi feita em 2023 por um grupo de familiares do arquiteto e engenheiro italiano radicado em Porto Alegre. Seus documentos revelam relíquias da produção do autor de projetos icônicos, como a Concha Acústica do antigo Auditório Araújo Vianna, o Cemitério São Miguel e Almas e o Palacinho, residência do vice-governador do estado. “Tomamos essa atitude por acreditar que o Centro de Memória tem a possibilidade de manter, divulgar e tornar pública a obra do nosso avô”, afirmou Flávia Boni Licht, que também é arquiteta.
Após receber a documentação, a equipe do Centro de Memória realizou os encaminhamentos técnicos e burocráticos de acordo com os padrões museológicos e a Política de Gestão de Acervos. Supervisora do Centro, a museóloga Bárbara Hoch conta que a equipe realiza uma série de procedimentos para avaliação, seleção e identificação dos itens antes da assimilação pelo espaço de forma permanente. O resultado do trabalho foi a catalogação de 115 conjuntos e quase 2.000 itens documentais disponíveis para acesso público.
É por este processo que passará também o acervo de Nestor Torelly, que conta com cerca de 1.700 itens, incluindo slides produzidos a partir de fotografias analógicas que registram a história arquitetônica da capital e do interior do estado entre os anos 1970 e 2000. O vasto volume é produto de quase cinco décadas da atuação de Torelly como professor nas faculdades de Arquitetura e Urbanismo da Unisinos e da PUC. O material foi utilizado para ilustrar as aulas da disciplina de Arquitetura Brasileira. Aposentado da docência, o arquiteto procurou o CAU/RS para garantir a preservação da documentação.
A coleção também conta com registros de exemplares que compõem a cronologia arquitetônica do período em diferentes regiões do país ao longo das décadas, mas a maior parte se refere à produção arquitetônica gaúcha. “Começamos por Porto Alegre e depois fizemos visitas de campo no interior do estado, onde a gente ia registrando o que tinha de interessante pra marcar as fases da arquitetura do RS”, conta o arquiteto, destacando que muitos dos exemplares já deixaram de existir com o processo de desenvolvimento urbanístico das cidades. “Eu não fotografava só prédios importantes do ponto de vista da volumetria, mas também pequenos exemplos de moradias coloniais, até as mais modestas, mas que eram características do período inicial da arquitetura”, ressaltou.
Para a diretora do Centro de Memória Carline Luana Carazzo, a incorporação dos acervos enriquece a coleção do espaço e demonstra a diversidade dos ramos de atuações na área de arquitetura e urbanismo. “A abertura desses acervos ao público, especialmente aos profissionais de arquitetura e urbanismo, propaga a história, a cultura e a arquitetura, promovendo um valioso acesso ao legado desses profissionais”, declarou Carline, que também é conselheira do CAU/RS.
Criado oficialmente em 2021, o Centro de Memória do CAU/RS também abriga acervos dos arquitetos Theo Wiedersphan, João Monteiro Netto, João Gerardo Soeiro, Luiz Bertola, Ticiano Bettanin e Silvio Toigo. Estão disponíveis ainda no espaço projetos e desenhos técnicos de exemplares como a Casa de Cultura Mario Quintana (originalmente Hotel Majestic), do Edifício Ely e do prédio da Livraria do Globo. É possível visitar o espaço físico do CM mediante agendamento pelo e-mail centro.memoria@caurs.gov.br. Parte do acervo está disponível em formato digital no site oficial.
Uma resposta
Fui aluno do Nestor Torelly na Unisinos nos anos 80. Foi com ele que, coincidentemente, conheci os projetos e realizações do Armando Boni e do Theo Wiedersphan. Mas o que mais marcou em suas aulas foi o compartilhamento de suas pesquisas sobre a arquitetura popular do interior do Rio Grande do Sul.
A Arquitetura do RS saiu ganhando com essas doações e a iniciativa do CAU/RS com a criação do Centro de Memória.
Como sugestão ao CM acho que o Inventário do Prof. Júlio Curtis (1º Diretor do IPHAN/RS), obviamente com o auxílio do EPAHC (Porto Alegre), deva ser tornado mais conhecido. Para os que não conhecem o “Inventário Curtis”, foi um documento auxiliar ao Plano Diretor de P. Alegre 1979, tornando público a importância para a História da evolução da cidade muitas edificações tanto as tradicionais quanto às ditas “comuns”, que tornam a cidade mais habitável e agradável quando preservadas na malha urbana. Mesmo que polêmico sobre o “engessamento” pelo ponto de vista patrimonial dos proprietários ou dos “empreendedores/especuladores” não diminui sua importância. Tanto que esse trabalho inspirou muitas outras cidades e pesquisadores a fazer o mesmo, tais como Passo Fundo, Caxias do Sul, Santa Maria, Pelotas e tantas outras.