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O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS) acredita ser por meio de concursos públicos que a administração pública contribui para a qualificação, segurança e valorização do espaço urbano e dos ambientes. O Concurso Público Nacional de Projetos de Arquitetura e Urbanismo Iconicidades foi lançado pelo governo do Rio Grande do Sul para fazer frente ao desafio de tornar as cidades gaúchas mais inovadoras, criativas e empreendedoras.
A iniciativa visou ressignificar e estimular a retomada de espaços arquitetônicos icônicos nas cidades de Cachoeirinha, Pelotas, Rio Grande, Santa Maria e São Leopoldo. Para isso, foram selecionados ambientes que são parte da identidade de cada lugar, seja pela localização, pelo estilo arquitetônico ou pelo uso que se fez deles no passado.
Conversamos com os escritórios que venceram o Iconicidades. Conheça o Tempo Arquitetos, de São Paulo (SP), primeiro lugar no concurso para a proposição de um Centro de Inovação e Economia Criativa ligado ao Clube dos Ferroviários. Falamos com a equipe sobre o projeto vencedor e as próximas etapas até o início das obras. Confira!
Qual a expectativa do escritório para as próximas etapas?
O Governo do Estado por intermédio da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) ratificou a contratação de nosso escritório para a elaboração dos anteprojetos e projetos executivos para Requalificação do antigo Clube dos Ferroviários ainda em 2022, cerca de cinco meses após a divulgação de nosso projeto como vencedor da intervenção proposta para Santa Maria. O anteprojeto de arquitetura e de todos os projetos complementares contratados foi entregue há cerca de duas semanas, dentro do prazo previsto em contrato (30 corridos), e agora toda a equipe e profissionais envolvidos já se mobilizam para a entrega dos projetos executivos, prevista para meados de abril.
Quais os principais desafios, agora?
Todos os objetos de projeto parte do Concurso Iconicidades apresentavam desafios distintos mas igualmente complexos. No caso de nosso projeto para Santa Maria, a necessidade de lidar com o icônico Clube dos Ferroviários, edifício protegido em duas instâncias – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (Iphae) e Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Santa Maria (COMPHIC) – e inserido na também tombada Vila Belga, centro histórico da cidade, sem dúvida é o maior desafio.
A construção apresenta hoje um estado de arruinamento avançado, prejudicando os deslocamentos e levantamentos internos, além de uma grande carência de informações a respeito de sua própria história. O projeto proposto, ao amalgamar passado e presente através do chamado “Túnel do Tempo”, ressalta continuamente a importância de compreender profundamente o que se encontra hoje construído para, assim, promover a requalificação tão desejada por todos os munícipes e amantes de Santa Maria. Todo esse processo de construção histórica e intervenção técnico-espacial é complexo e lida constantemente com inúmeras variáveis: um desafio que converte-se naturalmente em estímulo, uma oportunidade única de criar um espaço realmente significativo para aquele contexto tão especial.
De São Paulo a Santa Maria: como foi feita a imersão no local?
O desenvolvimento de um projeto nessa escala e em um contexto tão especial faz com que o local se torne, quase que naturalmente, nossa segunda casa. Estivemos em Santa Maria no final do mês de janeiro acompanhados dos profissionais responsáveis pelo projeto de restauração, estrutural e demais projetos complementares e fomos extremamente bem recebidos pelos representantes do município e também pela população que mora e circula pela Vila Belga. A visita ao Clube dos Ferroviários se transformou, para além de um simples acompanhamento técnico, em uma verdadeira imersão histórica e de aprimoramento das potencialidades ali identificadas, tanto na escala do edifício como na escala da cidade. O objetivo sempre foi que o complexo proposto, que abrigará a nova sede da Escola Municipal de Artes Eduardo Trevisan (EMAET) e também um espaço de empreendedorismo criativo, fosse um polo de irradiação de cultura e catalisador das transformações esperadas pelo município para a revitalização de toda a Vila Belga. Nossa presença em Santa Maria sem dúvida confirmou que o projeto vai de encontro a esses propósitos.
Qual o diferencial que tornou o projeto um dos vencedores?
Importante ressaltar que a qualidade das propostas premiadas e das demais propostas entregues nos deixou ainda mais orgulhosos e cientes da responsabilidade que temos em mãos. Acreditamos que o principal diferencial da proposta foi justamente o respeito com a história daquele contexto urbano tão singular, propondo uma arquitetura que embora essencialmente contemporânea não buscasse uma competição desigual com o já edificado. O edifício anexo pousa no lote perpendicularmente à rua, passando quase despercebido por quem lá circula. A atenção se voltará naturalmente ao Clube restaurado, ao novo espaço público proposto – uma extensão natural da própria rua – e ao chamado “Túnel do Tempo”, conexão programática e simbólica entre o antigo e o novo, passado e futuro. O térreo do edifício histórico será aberto, um grande saguão público que possibilita a fruição pelo espaço de todos aqueles que assim desejarem, independente de qualquer relação institucional com os espaços educativos. O compartilhamento do patrimônio histórico, assim, torna-se o que de mais bonito e gentil poderíamos oferecer para aquele edifício cujo arruinamento se tornou ferida dolorida para todos aqueles que ali conviveram. Essa possibilidade de escrever uma nova história é a maior beleza do projeto.