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Cristiane Lavall nasceu em Arroio do Meio (RS) e formou-se Arquiteta e Urbanista em 2014 pela Univates. “Desde pequena, havia uma certa inquietação que me acompanhava: eu achava que algumas coisas poderiam ser diferentes, poderiam estar em outro lugar. Por isso, eu vivia criando, esboçando reformas para a casa dos meus pais”, relembra. Aos 12 anos, sua madrinha pediu um desenho para a casa nova e Cristiane fez uma planta baixa e a fachada principal. Aquilo bastou para que a decisão estivesse tomada. Queria mesmo ser arquiteta e o ensino médio foi, de certa forma, um período demasiado longo para alguém que esperava ansiosamente pela realização de um sonho: fazer Arquitetura e Urbanismo.
Acompanhe a entrevista completa com a arquiteta e urbanista Cristiane Lavall que, em 2014, venceu o Prêmio CAIXA IAB RS José Albano Volkmer.
Entrevista | Cristiane Lavall – Precisamos de cidades para as pessoas
CAU/RS: Cristiane, como foi a tua trajetória profissional até o momento?
CL: Me formei em Arquitetura e Urbanismo pela Univates em 2014. Atualmente, sou mestranda em Arquitetura pelo PROPAR (UFRGS). Desde agosto de 2015, trabalho no Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (EMAU) da Univates onde desenvolvo e coordeno parcialmente o levantamento técnico de duas edificações históricas, vinculadas ao roteiro turístico Caminho dos Moinhos, além de atuar como monitora nas disciplinas de Projeto de Arquitetura VI e VIII, na mesma instituição.
CAU/RS: Quais áreas despertaram teu interesse dentro do curso? Quais foram os professores marcantes?
CL: Projeto de Arquitetura sempre foi a preferência dentre as disciplinas do curso. É através dela que se compreende a Arquitetura em sua totalidade. Tenho admiração por todos os professores que tive na graduação, mas, dentro da linha de projeto, os que marcaram minha trajetória acadêmica foram: Alex Brino, Hilton Fagundes e Nicolás Sica Palermo. Inesquecíveis também foram as disciplinas de Projeto Urbano com a querida professora Luciana Marson Fonseca.
CAU/RS: Para você, o que atrai tantas mulheres na escolha desta profissão? Percebe algum tipo de preconceito?
CL: Diante da História, a atuação das mulheres na Arquitetura é bastante recente. Estamos em um momento onde a troca de informações entre arquitetos e arquitetas é mútua (falo a respeito de escritórios, grandes ou pequenos, onde homens e mulheres atuam lado a lado) e isso é importante, pois reflete igualdade de gênero, ainda que boa parte dos profissionais atuantes na execução de obras sejam homens.
Minha atuação profissional é bastante recente, por isso não senti preconceito por ser mulher. No entanto, sabemos que o campo da arquitetura ainda é desigual, sabemos que existe, sim, preconceito com mulheres arquitetas, sobretudo se forem recém-formadas.
CAU/RS: Nesse sentido, o que ser mulher representa para a Arquitetura? Que arquitetas te inspiram?
CL: As mulheres têm uma maneira distinta de pensar, ser e ver. Isso, ao mesmo tempo em que nos diferencia, nos oportuniza um novo olhar sobre as coisas, sobre o mundo e a Arquitetura. E Lina Bo Bardi é minha grande arquiteta inspiradora, não somente por projetar edifícios ícones, mas por representar tão bem o papel da mulher na sociedade. Também me inspiram, todos os dias, as arquitetas que são colegas, amigas, professoras.
CAU/RS: Sobre projetos, algum já marcou tua carreira? Por quê?
CL: Um projeto que me orgulha foi o trabalho de conclusão de curso, que recebeu o Prêmio CAIXA IAB RS em 2014. Primeiramente, o projeto refletiu a vontade imensa de propor um espaço que revitalizasse uma área degradada da minha cidade. Ter o projeto premiado foi uma grande alegria, dentre tantos outros bons projetos concorrentes. Finalizei a graduação com chave de ouro e agora busco realizar outros sonhos. Tenho certeza que esta premiação abriu muitas portas, inclusive estar aqui participando dessa entrevista.
CAU/RS: E, atualmente, o que te realiza como profissional?
CL: O que me realiza como profissional é ter a oportunidade de projetar e concretizar sonhos de tantas pessoas, sendo esse o maior propósito da profissão. Além disso, poder estudar e pesquisar mais sobre a Arquitetura.
“É preciso planejar cada passo, é necessário olhar para a precariedade das habitações, das infraestruturas, dos não-lugares que cada vez mais configuram o espaço citadino.”
CAU/RS: Para finalizar, Cristiane, é possível indicar algum caminho para a Arquitetura e Urbanismo? Novos valores? Novos desafios? Como mulher, alguma orientação para as meninas que estão começando no curso ou para as que tem desejo de se profissionalizar na área?
CL: Me parece que, em um futuro bem próximo, não serão projetos espetaculares que resolverão os maiores problemas das nossas cidades. É preciso planejar cada passo, é necessário olhar para a precariedade das habitações, das infraestruturas, dos não-lugares que cada vez mais configuram o espaço citadino. As pessoas são o ponto-chave para o entendimento e o enfrentamento dessas problemáticas. Projetamos para pessoas, precisamos de cidades para as pessoas, que carecem de uma arquitetura cotidiana de boa qualidade. Não precisamos ir à Nova Deli para refletir sobre isso. São problemas recorrentes do nosso entorno, capital ou interior.
Para as futuras arquitetas, minha dica é ter coragem. Ela será necessária durante a graduação e, sobretudo, na vida profissional. Coragem para abdicar em alguns momentos, das pessoas que amamos; coragem para viajar, descobrir e vivenciar Arquitetura; coragem para tantos desafios que virão, principalmente, no início da carreira; coragem ao tomar decisões e para enfrentar o mundo.