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O Vila Flores, de Porto Alegre, nos presenteia com suas percepções sobre a Bienal de Arquitetura de Veneza após participação na maior exposição sobre arquitetura do mundo
A Bienal de Arquitetura de Veneza de 2016 aproxima as pessoas da arquitetura e a arquitetura das pessoas. Nos faz pensar sobre o importante papel dos processos arquitetônicos em nossas vidas, pois relaciona a realidade de determinado local aos conceitos de uma arquitetura humana, que pensa os espaços, as cidades e as edificações do ponto de vista social, vivencial e antropológico.
Transitando pelos pavilhões da Bienal, pode-se entender a arquitetura como uma tradutora de realidades. É nas formas e soluções encontradas por cada país, cidade ou comunidade que podemos ler a constituição cultural do lugar e visualizar de que maneira as experiências e necessidades se traduzem em um processo arquitetônico que se integra à realidade para melhorar a qualidade de vida das pessoas ou até mesmo contestar os padrões de planejamento urbano que já não atendem às demandas locais.
Logo na entrada do pavilhão Arsenale é mostrado como foi o processo de curadoria para esta Bienal. O público pode ver pequenos trechos de vídeo que mostram desde as primeiras mensagens por Whatsapp, quando Alejandro Aravena recebeu o convite para ser curador da Bienal, até as reuniões entre o curador Aravena e seus colegas de trabalho do escritório Elemental e depois entre todos os curadores dos diversos países representados na exposição. Trechos importantes de reflexões e debates sobre os conceitos de arquitetura abordados nesta mostra podem ser assistidos pelo público.
Os pavilhões de cada país apresentavam projetos estritamente relacionados com suas questões culturais e aprimoramento de seu planejamento urbano no momento em que cada vez mais é necessária a participação das pessoas nos espaços da cidade. A arquitetura se mostra como um instrumento de política participativa e é possível notar a apropriação de processos arquitetônicos por cidadãos não instrumentalizados em arquitetura. É evidente nos projetos expostos como muitos dos arquitetos têm se esforçado para traduzir uma demanda social, cultural e econômica usando ferramentas da arquitetura e não apenas se restringindo ao campo de ação específico da área, mas transitando entre saberes de muitos outros campos e criando projetos transdisciplinares.
Na exposição estavam postas as contradições que a arquitetura pode enfrentar em seus processos, sendo excludente ou inclusiva, sendo pensada apenas como produto ou como processo, sendo planejada para pessoas ou apenas para o mercado. No painel de entrada lia-se: “Arquitetura é dar forma aos lugares em que as pessoas vivem” e ao lado, em outro painel, estava escrito em letras grandes: Qualidade de vida, desigualdades, segregação, insegurança, periferias, imigração, informalidade, saneamento, desperdício, poluição, desastres naturais, sustentabilidade, tráfico, comunidades, habitação, mediocridade, banalidade.
A cidade-jardim, a cidade como espaço educativo, como espaço de terapia, a cidade da comunidade, a ocupação dos espaços públicos, a cidade segura para mulheres, a cidade inclusiva para cadeirantes, o urbanismo efêmero, o direito à habitação de qualidade, a prototipagem de experiências em planejamento urbano, o tempo necessário para que um projeto arquitetônico faça sentido para um local, o direito ao bem comum: ar, água, céu, terra. Todos estes conceitos perpassam os projetos expostos na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2016. Caminhar pelos pavilhões é como viajar pelo mundo e descobrir condensadas as dificuldades e a criatividade de cada povo. As soluções propostas por cada país ou comunidade nos faz acreditar que a arquitetura pode se tornar um conhecimento e uma ferramenta cada vez mais acessível, que nos permitirá ver o mundo cada dia um pouco melhor.