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Obras de arte podem ressignificar a rua. No entanto, antes disso, é preciso que as ruas sejam ressignificadas pelas pessoas. A reflexão é do arquiteto e urbanista Mario Englert, diretor da Fundação Bienal do Mercosul, iniciativa que, em 20 anos de existência, realizou dez edições da mostra de artes visuais, somando 615 dias de exposições abertas ao público, 73 diferentes exposições, 5.435.341 visitas, 1.262.658 agendamentos escolares, 214.908 m² de espaços expositivos preparados, áreas urbanas e edifícios redescobertos e revitalizados, 4.597 obras expostas, intervenções urbanas de caráter efêmero e 16 obras monumentais deixadas para a cidade. A Bienal de Artes Visuais do Mercosul – que tradicionalmente acontece nos anos ímpares – dessa vez será realizada de 05 de abril a 04 de junho de 2018.
Englert compartilha a ideia de que a arte é capaz de criar o que ele chama de “passeios arquitetônicos”. Arquitetura é a relação do olhar com o que se está olhando. “É uma disciplina que se estabelece através de passeios arquitetônicos: é aquilo que se pode ver”, comenta. A arte contemporânea quer ofertar uma experiência estética e sempre estará exposta num ambiente que é arquitetônico: uma sala, um museu, uma rua, um parque. “A arquitetura cria o ambiente para a arte. E, neste sentido, ainda falta para que Porto Alegre seja palco de uma transformação pela arte. Se for caminhar no Centro, há uma necessária reconciliação com a calçada. Entendo que esse poderia ser um importante legado da Bienal”, comenta.
A Bienal do Mercosul, que completa 20 anos em Porto Alegre, quando começou a ter acervo próprio, colocou suas obras simplesmente onde deixaram. Uma delas é a obra batizada de “Supercuia”, de 2003, que está numa rótula às margens do Guaíba. O autor é o artista plástico gaúcho Saint Clair Cemin, reconhecido internacionamente pelas criações expostas em museus como o Whitney, em Nova Iorque, e o MoCA, em Los Angeles, além de praças ao redor do mundo. “Está num lugar ‘estranho’ e sem base, o que desvaloriza o seu potencial. E, se olharmos atentamente, o espírito desta obra tem muito a ver com a obra que está no espelho d’água do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, que se tornou ponto turístico fotografado por uma infinidade de turistas”, afirma.
A Bienal do Mercosul acompanha, de acordo com o arquiteto, um movimento de ocupação: queremos estar nos lugares que são públicos. Em entrevista coletiva, a organização antecipou que terá três locais de exibição: MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul, MAC/RS – Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul e Santander Cultural, além de algumas intervenções temporárias ainda não definidas nos espaços públicos do Centro da Capital Gaúcha. “Obra e ambiente, quando em harmonia, tornam-se uma coisa só”, finaliza Englert.