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O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS), órgão que regulamenta e fiscaliza o exercício da profissão no estado, inicia uma ampla discussão pela qualidade do Ensino Superior nas Faculdades de Arquitetura e Urbanismo. Preocupado com recentes acontecimentos que apontam para a desvalorização e precarização do ensino, o CAU/RS lança luz sobre o tema.
Nossas faculdades, públicas e privadas, ocupam posições destacadas nas avaliações nacionais e internacionais de qualidade do ensino e produção científica, com uma história que merece reconhecimento. No entanto, enquanto as instituições públicas sofrem com o exponencial corte de verbas para a educação, as privadas, em especial as vinculadas a conglomerados educacionais, substituem as metas acadêmicas por metas financeiras sem respeitar o caráter estratégico que o ensino tem para o desenvolvimento do país.
A demissão em massa de professores que representam a qualidade dos cursos (fundadores, coordenadores, pesquisadores, docentes que são referência para seus colegas e estudantes); a redução da carga horária; a alteração curricular unilateral sem consulta aos interessados; a simbólica transformação da educação em artigo de consumo rápido, com universidades dentro de centros comerciais; a concentração de matrículas nas mãos de poucas e grandes empresas privadas de ensino, algumas multinacionais; a oferta de cursos em regiões já saturadas de profissionais; e o ensino à distância indiscriminado em detrimento de atividades essencialmente práticas de atelier são apenas alguns exemplos que atestam o ataque ao Ensino Superior.
A Constituição Federal assegura que o ensino será ministrado com base no princípio da garantia do padrão de qualidade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação determina, em seu artigo 3º, a “garantia de padrão de qualidade” como um dos princípios do ensino no Brasil. A Lei 12.378/2010 afirma que compete ao CAU zelar pela dignidade e valorização da Arquitetura e Urbanismo, o que inclui a formação de cada profissional arquiteto e urbanista ainda na universidade.
A preocupação do CAU/RS é compartilhada por outros 16 Conselhos Profissionais, que divulgaram, em novembro de 2017, um manifesto pela valorização do Ensino Superior. O Sindicato dos Professores do Ensino Privado (Sinpro), entidades de Arquitetura e Urbanismo e também a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA) tem a desqualificação do ensino como pauta e preocupação recorrente. Em manifestação recente, a ABEA argumenta que, no momento em que a camada mais vulnerável da população finalmente foi incluída no sistema educacional superior brasileiro, cortou-se pela raiz o caminho que se construiu para isso: “Acaba-se com a qualidade dos cursos privados sem qualquer discussão dentro do universo acadêmico com o simples argumento de que é preciso equilibrar as contas e aumentar a margem de lucro, como em qualquer empresa. A questão é que uma universidade não é como qualquer empresa, necessita de concessão do governo justamente por ser o setor mais estratégico para o desenvolvimento do país”.
O CAU/RS defende o ensino de qualidade por uma arquitetura e urbanismo de qualidade. E, preocupado com as ameaças ao Ensino Superior, lança a seguinte pergunta: uma empresa privada com ações na Bolsa de Valores privilegia a rentabilidade de suas ações ou a qualidade do ensino? Está aberta a discussão.
3 respostas
Boa tarde, ingressei na Faculdade Ritter dos Reis(nome na época) em 1994 e colei grau em 2002. Fui ensinado e orientado por professores e mestres de excelência e qualidade singular e verdadeiramente superior. É com muita tristeza que venho observando na prática,através dos estagiários que vem passando pelo meu escritório, a falta de qualidade do ensino, não somente de uma Universidade, mas de várias.A notícia da exclusão de diversos mestres, em específico na Uniritter(nome atual) causa espanto e desesperança para o futuro da arquitetura. dinheiro X ensino = sucateamento do conhecimento superior!
Bom dia, é vergonhoso, triste e desesperançoso ver a forma como está sendo tratado o ensino superior em nosso País e estado, Fui formado pela UFPEL-URGS no ano de 2005 e hoje assisto pasmo a desvalorização da nossa categoria, estamos relegados a miséria. Vê-se faculdades de Arquitetura e Urbanismo para todo lado, formandos de baixíssima qualidade saturando a cada dia mais o mercado, trabalhando por qualquer valor de qualquer forma.
A livre concorrência sem uma regulamentação mais real e adequada por parte do CAU está aniquilando com nossa categoria, entendo a dificuldade por parte do Conselho pois teoricamente cada um dá a seu trabalho o valor que quiser, porém o que tem acontecido extrapola todo e qualquer limite.
Chegamos ao ponto em que o servente de obra tem remuneração melhor que o Arquiteto.
Desde Prefeituras e órgãos públicos abrindo vagas com salários 1/3 do salário base, porque não há obrigatoriedade de um salário mais digno? ao menos em repartições públicas?
Questiono o que podemos e o que devemos fazer a respeito, como e quanto o CAU pode ajudar nesse sentido?
Primeiramente, o CAU não atua com ênfase em nenhuma área da profissão. Universidades estão formando desenhistas com carteira do CAU e isso parece algo normal. A grande concorrência e os preços altos para uma formação em arquitetura leva as universidades e faculdades a abrirem cursos com carga horária baixa e professores muitas vezes apenas com graduação. O problema é muito grande, a profissão sofre desvalorização e descrédito com baixíssima liquidez. Querem dizer que o mercado é o vilão? Pois mesmo quem trabalha batendo ponto dentro do CAU depende do mercado para sobreviver, então está mais do que na hora dos colegas abrirem os olhos e aceitarem que o mercado de trabalho deve ser encarado no ensino e não ficarem na utopia socialista onde arquitetos projetam o futuro sentados na poltrona dos deuses.