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Desenho à mão livre e o potencial criativo da tentativa e erro

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Não há como negar que a tecnologia otimizou o mercado de trabalho. A arquitetura e o urbanismo que o digam. O avanço da computação e de programas específicos facilita, a cada dia, a criação dos desenhos dos arquitetos. Porém, não se pode deixar de lado a importância do desenho à mão livre nas fases mais sensíveis da concepção de projetos. “A arquitetura vai ser sempre dependente da informática, mas não pode ser refém dela”, comenta o arquiteto e urbanista Daniel Dillenburg, reconhecido pela qualidade de seu desenho à mão livre.

Dillenburg dedica-se ao paisagismo, área em que possui experiência de mais de uma década. “Hoje possuo meu próprio escritório, me dividindo entre projetos para o mercado imobiliário bem como trabalhos de caráter mais artístico, como desenhos e aquarelas. Procurei dar um caráter mais de atelier, invés de um aspecto empresarial, pois acredito que o local de trabalho deve ser totalmente adequado à personalidade do profissional e, no meu caso, papel, lápis, canetas e livros povoam o ambiente”.

Sobre a grande evolução tecnológica que acontece na profissão dos arquitetos, Dillenburg afirma: “é inegável que o computador facilitou e otimizou a vida dos arquitetos, mas mesmo assim acredito que estamos vivendo uma espécie de renascimento do desenho à mão livre, talvez pela saturação das imagens ultrarrealistas, que deixam pouco à imaginação”. Em nosso período moderno, alguns dispositivos digitais tentam simular o desenho à mão, como, por exemplo, a utilização da caneta digital no tablet e ipad, porém, “o desenho, que é um processo tangível, pode ser feito com o que estiver ao alcance, como uma caneta e um papel, pois às vezes os momentos de inspiração surgem de repente, em momentos inusitados. E mais: o desenho é único e inerente a cada um, o traço é pessoal, e por isso tem um incrível poder de comunicação”, afirma Dillenburg, relembrando a frase do crítico de arte e escritor John Berger, que diz: “Frente a um quadro ou uma escultura, o espectador tende a identificar-se com o tema, a interpretar as imagens por elas mesmas; frente a um desenho, se identifica com o artista, e utiliza as imagens para adquirir a experiência consciente de ver como se fosse através dos olhos do mesmo”.

Apesar da tecnologia ser parte do trabalho do arquiteto, é importante lembrar que o desenho a mão livre é importante para projetos, pois humaniza a concepção da obra. Segundo Dillenburg, é encantador ver a arquitetura de figuras como Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza, que concebem obras singulares e sempre exaltam o desenho no processo do projeto. “É sempre um prazer, e acima de tudo, um desafio lançar um projeto sobre o papel branco, ele está ao alcance, não no campo matemático do computador. Essa fase de tentativa e erro é uma das coisas mais fascinantes do processo de projeto, em que é preciso riscar e arriscar, sujar as mãos e o papel, e é aí que começa a nascer a arquitetura”, conclui.

Inspirações para desenhar

Entre suas inspirações está o modo de trabalho dos escritórios de paisagismo norte-americanos que ainda utilizam muito o desenho à mão, não somente na concepção, mas também na apresentação dos projetos. Dillenburg procura fazer o mesmo ao utilizar implantações humanizadas e croquis à mão livre. E destaca que existem ainda os desenhistas urbanos, ou “Urban Sketchers”, grupos de pessoas que se reúnem para desenhar o cenário cotidiano das cidades e que também são suas fontes de inspiração. “As viagens de Le Corbusier, os desenhos nos cafés de Álvaro Siza, tudo isso serve de inspiração. Aqui mesmo em Porto Alegre temos um grupo, o Croquis Urbanos, que é muito legal e está crescendo cada vez mais. Os encontros acontecem uma vez por mês e reúnem professores e alunos, unidos por uma paixão em comum: o desenho”, comenta.

Desenhos à mão livre por Daniel Dillenburg

7 respostas

  1. bueno…mas, bah, que baita artigo.
    o colega daniel tem razão…os trabalhos mega-realisticos até confundem, à primeira vista.
    lembro com gosto, os tempos das ecolines, das hidrográficas, e dos lápis de cor…
    comprar canson ou fabriano, na antiga casa do desenho, era fantástico.

  2. Excelente artigo. No livro “Pesquisando arquitetura”, quando abordei a graficação, comentei que “ótimas imagens, elaboraradas à mão, proporcionam um toque de qualidade e personalizaçao, valorizando o trabalho produzido”.

  3. Gosto de usar uma representação mais artística dos meus projeto, mesmo utilizando o computador para modelagem, raramente faço perspectivas à mão. Penso que o fotorealismo não mostra a essência do projeto e o trabalho acaba por focar na representação fiel das texturas e reflexos muito mais do que na arquitetura. Ainda gosto de fazer os esboços iniciais em papel pois no computador acabo sugado aos detalhes que não cabem ao processo inicial, devem ser postergados a um segundo momento.

    1. Oi, Rodrigo. O texto é de autoria da Assessoria de Comunicação do CAU/RS.

  4. olá muito legal o artigo estudo arquitetura e estou começando a me familiarizar com os softwares para desenho com certeza eles dão uma agilidade impressionante na criação do projeto mas confesso que minha paixão e o desenho a mão ,sempre desenhei e acho que no processo criativo o fazer a mão é a essência principal.

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