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Futuro na cidade: uma questão atual

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Foto: Divulgação

Cidade é lugar de oportunidade. Pelo menos é o que acreditam uma parcela considerável da população. Não à toa, cidades tornam-se cada vez maiores para atender uma demanda crescente. Difícil dizer se o ambiente urbano motiva mudanças sociais ou se os padrões da sociedade impõem o desenvolvimento urbano. Mas isso, sem dúvida, está relacionado.

O dinamarquês Peter Kronstrom, especialista em futuros do Copenhagen Institute for Futures Studies Latin America, ao observar as macrotendências ao redor do mundo e as particularidades do Brasil, país em que está sediado, consegue chegar a alguns palpites sobre cidade, tecnologia e comportamento e compartilha, em conversa exclusiva, com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo.

Cidades inteligentes

Existe um conceito que usa a cidade como palco para experiências via desenvolvimento tecnológico. As Smart Cities, ou cidades inteligentes, aparecem como forte tendência ligada à “internet das coisas” e à conectividade de objetos e itens utilizados no dia a dia com computadores, tablets e smartphones. “O smartphone está mudando a forma como a gente usa a cidade. A internet e os aplicativos no celular facilitam compras, deslocamentos, relacionamento entre pessoas. A tecnologia nos ajuda a organizar as cidades de uma forma cada vez mais inteligente. Os avanços tecnológicos são tão grandes e rápidos que fica difícil implementá-los na mesma velocidade”, comenta. Para o futurólogo, “já é possível planejar a cidade perfeita com informação e tecnologia. Afinal, cidades planejadas para as pessoas facilitam a vida feliz”.

Feliz cidade

No Brasil, quase 90% das pessoas vive em regiões urbanizadas. Segundo Peter, este padrão é esperado para o resto do mundo até 2050. Porém, “a cidade do futuro precisa resgatar o vínculo com a natureza e as áreas recreativas. Ela existe para a gente trabalhar, mas, acima de tudo, viver”. Entre as tendências para a arquitetura está a criação de espaços e edifícios multiuso. “A arquitetura tem papel fundamental no futuro das cidades e o arquiteto e urbanista na sua construção. Além de casas, lojas e prédios funcionais, é fundamental facilitar a felicidade dos moradores”.

Praça Roosevelt está entre as preferidas dos skatistas em São Paulo. Foto: Lalo de Almeida/Folha de S.Paulo

Questão comportamental

O futuro da cidade pode ser analisado por diversos ângulos. Planejamento de tráfego, dados meteorológicos, possibilidades tecnológicas. Mas é primordial observar comportamentos. “Há cada vez mais pessoas trabalhando em casa. E isso tem muito potencial para diminuir os problemas de trânsito no futuro. Ao mesmo tempo, cada vez mais pessoas estão abrindo os olhos para a importância de uma vida saudável, seja com transporte compartilhado ou uso da bicicleta, o que é um desafio para os planejadores”.

Drops: outras tendências mundiais

Desenvolvimento demográfico – “Cada vez mais pessoas moram nas cidades e estamos esperando um aumento populacional muito grande. Vamos olhar para um postal da Av. Paulista, em São Paulo, daqui a 50 anos e pensar ‘como era bom’, pois teremos novos problemas”.

Saúde – “É preciso redesenhar as cidades para que as pessoas tenham uma vida longa e saudável. Com tantos avanços na área da saúde, seremos também uma maioria de idosos”.

Polarização – “Outro desafio para o futuro diz respeito ao planejamento das cidades para construir maneiras de facilitar a integração entre ricos e pobres e diminuir os espaços entre pessoas com diferentes crenças políticas e religiosas”.

Individualização – “Somos mais peculiares e queremos viver nossa própria forma de ser no mundo. Mas, em alguns casos, o individualismo choca com o princípio de comunidade. Eu, como exemplo, moro perto da Praça Roosevelt, em São Paulo, local de encontro de muitos jovens, pessoas que estão experimentando novas identidades e fazem muito ruído. Nestes casos, o urbanismo tem a missão de facilitar a vida individualizada e, ao mesmo tempo, promover a coletividade”.

Casas solteiras – “Foi-se o tempo em que o homem era o sexo forte. A vida moderna mudou nossos padrões sociais. Na Suécia, 47% das residências são ‘casas solteiras’ e o mundo deve seguir este padrão. Em 30 anos, imaginamos que apenas metade das casas serão habitadas por famílias constituídas. Alguns apartamentos em São Paulo já não têm cozinha. Dentro do prédio há lavanderia e espaço gourmet compartilhado. Também precisamos de espaços para encontrar pessoas fora de casa. Todo o papel que a família cumpria foi substituído ou integrado a grupos de amigos e interesses, música, subculturas. É preciso construir cidades para que as pessoas se desenvolvam e interajam com outros grupos”.

Foto: Lalo de Almeida/Folha de S.Paulo
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