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Muros visíveis e invisíveis da cidade

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Atualmente, mais da metade da população mundial vive em centros urbanos. E esse percentual é ainda maior no Brasil. De acordo com dados do IBGE, aproximadamente 85% da população brasileira vive em cidades. Com isso, se pode perceber uma necessidade por centros urbanos adequados para toda a sociedade, um lugar onde todos possuam direito de moradia, educação, saúde, lazer e uma série de serviços e condições de habitações que possibilitam uma vida melhor para seus habitantes. Mas, mesmo com essa perspectiva de serviços, a vida na cidade é permeada de adversidades e oportunidades de melhoria. O centro urbano tem catracas – visíveis e invisíveis – que impõem acessos, muitas vezes aos direitos primários, como o acesso a saúde, educação, lazer e ao contato entre as pessoas.

O arquiteto e urbanista Paolo Colosso afirma que o uso dos espaços públicos pela sociedade é essencial para “pular algumas dessas catracas invisíveis” existentes nos centros urbanos. Uma dessas catracas é justamente a forma contemporânea de viver, baseada na lógica de condomínio, onde a sociedade se alimenta da hiperindividualização e os espaços públicos acabam sendo esquecidos. Esses conflitos urbanos podem ser evitados e, para Colosso, a utilização dos espaços públicos, seja por lazer ou manifestação, é necessária para dar um significado à cidade.

Foto: Divulgação

Cidade de muros                                                           

De acordo com Teresa Caldeira, autora do livro “Cidade de Muros: Crime, Segregação e Cidadania”, a cidade está rodeada de muros. É relatado em sua obra que os moradores da cidade não querem se arriscar a ter uma casa sem grades, sem muros. As barreiras físicas cercam espaços públicos e privados: casas, prédios, parques, praças, complexos empresariais, áreas de comércio e escolas. Em seu livro, Teresa comenta que os moradores de todos os grupos sociais constroem muros e mudam seus hábitos a fim de se proteger do crime. Porém, os efeitos dessas estratégias de segurança vão muito além da garantia de proteção. Ao transformar a paisagem urbana, as estratégias de segurança dos cidadãos também afetam os padrões de circulação, trajetos diários, hábitos e gestos relacionados ao uso de ruas, do transporte público, de parques e de todos os espaços públicos.

Outra autora que enfatiza o uso do espaço público é Jane Jacobs. A escritora de “Morte e vida de grandes cidades” é uma das defensoras mais consagradas dos valores da vida pública moderna nos centros urbanos. Suas análises do uso de calçadas e dos parques mostram as condições que tornam interações públicas entre estranhos possíveis e seguras. Jacobs afirmava que a relação entre os edifícios e a rua é de extrema importância para poder existir vigilância natural e, por consequência, existir mais segurança. Portanto, os edifícios precisam oferecer a possibilidade de contato visual entre o interior e o espaço público, para que os olhos de toda a sociedade possam atuar.

Esses e outros temas conduziram a programação do Seminário Cidade das (In)diferenças, realizado na última semana de setembro no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O objetivo foi problematizar, no âmbito do planejamento urbano, a indiferença das relações sociais, econômicas, culturais e simbólicas construídas na contemporaneidade e suas repercussões nas formas de interação sócio-espacial nas cidades.

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