Fotografia e arquitetura: olhar, estética e perspectiva

Ainda que tenha inúmeras subjetividades, arquitetura é forma e estética e, portanto, universo muito visual. É, por isso, disciplina que se relaciona com a fotografia. Retratos são grandes aliados no registro do andamento de obras arquitetônicas, além de serem um diferencial na divulgação de trabalhos já concluídos, especialmente quando existe um olhar apurado para os detalhes.

Arquitetos e urbanistas de formação, os fotógrafos Marcelo Donadussi e Carin Mandelli decidiram combinar o conhecimento técnico à sensibilidade de estar atrás das lentes. A compreensão de aspectos técnicos e estéticos próprios da arquitetura auxilia os profissionais a desenvolverem um pensamento mais estratégico ao realizar este tipo de trabalho.

Aproximação com a fotografia

Carin Mandelli, arquiteta e urbanista por formação, se aproximou da fotografia enquanto crescia, já que era o hobby preferido de seu pai e de seu avô. Após cerca de dez anos de carreira conciliando os trabalhos como arquiteta e fotógrafa – ela teve experiência com projetos arquitetônicos para hospitais, consultórios médicos, casas, arquitetura de interiores, fotografia publicitária e, enfim, fotografia de arquitetura – a demanda de trabalho com fotografia cresceu a um ponto que Carin acabou naturalmente migrando para esta área. “Acho que as duas profissões têm muito em comum. Ambas precisam da sensibilidade no olhar, ambas trabalham muito com a luz, com o volume, com a estética e com as formas”, comenta.

Para Marcelo Donadussi, a conexão entre as duas profissões também se deu de forma natural, já durante o curso de Arquitetura e Urbanismo. Atualmente, em seu currículo, constam experiências em exposições e publicações relacionadas à arquitetura de Porto Alegre, campanhas publicitárias e guias de arquitetura de interiores, além de participação em revistas do setor de circulação nacional. Donadussi consolidou sua carreira na fotografia com o diferencial de possuir o olhar técnico e apurado de um arquiteto. “Percebi que fotografar arquitetura também fazia parte de pensar, projetar, executar e documentar. Ambas as profissões devem ter um senso estético apurado, saber identificar proporções, compor. Pode-se dizer que em alguns momentos existe algo racional, mas por outro lado, as questões subjetivas, que também são aspectos da arquitetura, são de mesma forma aplicadas à fotografia”, observa o profissional.

De fato, a subjetividade do fotógrafo é o que dá o toque da individualidade de cada um para o trabalho ao documentar trabalhos arquitetônicos. Uma mesma obra pode ser retratada por diversos olhares, dependendo da sensibilidade, história e envolvimento de quem a registra. Além de reconhecer a importância do domínio técnico do fotógrafo sobre o prédio ou ambiente, é necessário também ressaltar outro diferencial de um fotógrafo de arquitetura: conseguir conferir um sentimento, uma característica subjetiva ao que é mostrado.

Fortalecendo a economia criativa

Atividades criativas – ainda que exijam aprimoramento técnico – ainda não são consideradas fundamentais pelas empresas e pelas pessoas. “Tudo o que envolve criação, em algum momento, é um tanto desvalorizado porque as pessoas sempre têm a sensação de que foi fácil. O conhecimento puramente técnico é mais valorizado”, aponta Carin Mandelli.

Os arquitetos, enquanto profissionais criativos, precisam, constantemente, reinventar seus estudos e atuação, tanto no sentido de desenvolver outras competências de trabalho – no caso da fotografia – como ao promover debates mais amplos na área da Arquitetura e Urbanismo. “Acredito que a formação em arquitetura, como um todo, auxilia no entendimento dos projetos, desde a organização espacial ao desenho à mão livre, produção de perspectivas, isto é, saber como os espaços se conectam”, observa Marcelo Donadussi.

Entender como os espaços se conectam e conferir sentimento e subjetividade a obras de arquitetura são pontos essenciais para humanizar a profissão e integrar a Arquitetura e o Urbanismo à discussão da sociedade como um todo. Através da fotografia de arquitetura, é possível sensibilizar o olhar da população para o que as cerca diariamente, e que muitas vezes não é percebido com atenção.