Eventos

Acessibilidade: intérpretes de língua de sinais promovem inclusão para surdos na Trienal

Palestras e sessões temáticas acessíveis para surdos: intérprete à esquerda, ao lado do projetor | Foto: Ascom CAU/RS

A Trienal de Arquitetura e Urbanismo, promovida pelo CAU/RS de 16 a 19 de novembro em Porto Alegre, entrou para a história por vários motivos: reunir profissionais de todo o país em um dos mais importantes símbolos de resistência da cultura brasileira, o Theatro São Pedro, realizar as premiações do Conselho e entidades em uma mesma noite, debater temas de diversas áreas de interesse e atuação profissional e por, pela primeira vez, transmitir amplamente palestras e sessões temáticas com intérpretes de libras.

Conversamos com parte da equipe que, além de trabalhar nas transmissões do evento, atua para que pessoas com deficiência auditiva possam ter acesso a qualquer tipo de comunicação e informação. A língua portuguesa não é a língua dos surdos, por isso legendas em vídeos não são eficientes. A língua deles é a de sinais e o trabalho de tradutores e intérpretes é fundamental.

 

“Eu já escuto os teus sinais”

Liene Marques Miranda comenta que tinha uma colega surda no curso Técnico de Administração e foi o desejo de se comunicar com ela que a levou a procurar a formação no curso Técnico em Tradução e Interpretação de Libras do Instituto Federal – Campus Alvorada. “É um curso gratuito com duração de dois anos e você sai formado tradutor e intérprete”, explica. Atualmente, ela é intérprete de libras no Instituto Federal – Campus Restinga.

Tatiana Nascimento é mãe de surdos, uma menina e um menino, e se interessou pelo curso, realizado há 11 anos, para se comunicar adequadamente com eles. Após seis meses de formada, conseguiu trabalho na área. Ela conta que, na época, a própria escola em que os filhos estudavam oferecia um curso para os pais.

Amanda Fernandes, Leandro e Michele Ataide foram intérpretes da sessão temática Arquitetura e Turismo e, entre outros motivos, tinham em comum o desejo de difundir a palavra cristã e fazer contato com a comunidade surda como Testemunhas de Jeová. Assim, dedicaram-se a aprender a língua de sinais. Amanda, que tem tio surdo, destaca a dificuldade das pessoas com deficiência auditiva de terem acesso à cultura pela falta de intérpretes. Leandro e Michele, da LM Libras, comentam que o investimento em equipamentos e tecnologia é importante (iluminação adequada, boa conexão com a internet etc.). A pandemia, por um lado, mostrou como é possível para muitas empresas e para o poder público promover esse tipo de acessibilidade.

Flávia Frassa é professora de ballet e participante de um grupo de canto. Foi cantando com três colegas surdos, vendo intérpretes traduzirem os movimentos do regente, que ela se interessou pela profissão e, em 2013, decidiu buscar mais sobre a língua. Ela afirma que a interpretação de uma palestra para o público é diferente de uma interpretação para artistas, que necessitam de um trabalho mais expressivo. Atualmente, também é formada pelo IFRS – Campus Alvorada e trabalha como intérprete na Ulbra.

Marcelo Boneberg tem 23 anos e é filho de pais surdos, então libras foi sua primeira língua. Depois de formado no ensino médio, fez um curso técnico e se especializou na área. Hoje, trabalha como coordenador da Central de Interpretação de libras da Prefeitura de Alvorada e auxilia mais de 500 pessoas surdas, por meio de assessoria de interpretação, jurídica e técnica. É justamente na assessoria jurídica que vivenciou uma de suas experiências mais marcantes: interpretar e traduzir o julgamento de um processo para uma vítima surda, que pôde se comunicar e entender o que o júri determinava a partir de seu trabalho. “Eu trabalho com paixão e não deixo de me importar, porque é algo que faz parte de mim desde que eu nasci”, afirma.

Brian Garcia também afirma ter vocação para o voluntariado, motivado principalmente por sua fé como Testemunha de Jeová e gosto por ajudar o próximo. Aprendeu a língua com amigos surdos, atua de forma voluntária desde 2012, e, mais tarde, passou a se profissionalizar na interpretação. Ele relata que, no início, não gostava de libras, por entender que a língua não atingia o concreto, a profundidade do significado das palavras. Uma vivência marcante foi conhecer uma senhora surda, que queria entender a Bíblia e não recebia auxílio de ninguém. Quando um intérprete a ensinou a dominar a língua, ela ganhou autonomia para conhecer a palavra. Foi aí que Brian passou a entender a grandiosidade da língua de sinais, que pode transformar vidas e traduzir mais sentimentos do que as próprias palavras.

Também participaram da Trienal os intérpretes Lucas Terres e Vanusa. Como canta Alceu Valença na famosa canção “Anunciação”: “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais”.

Em 2023, o CAU/RS terá uma Comissão Temporária de Ações Afirmativas (CTAA) que buscará pautar ainda mais temas como acessibilidade, inclusão, diversidade e equidade de gênero de modo permanente do Conselho gaúcho. Acompanhe o site e as redes sociais para mais informações.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

OUTRAS NOTÍCIAS

Espaço do Arquiteto: um novo local para profissionais de Arquitetura e Urbanismo

Seminário ATHIS e as necessidades habitacionais no Rio Grande do Sul

Software Livre: 1º Seminário Solare está com inscrições abertas!

Pular para o conteúdo