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Conhecer as técnicas, materiais e desafios de projeto de ícones da arquitetura são desejos comuns a pessoas que ambicionam um diploma de Arquitetura e Urbanismo. Mas para além dos clássicos e dos grandes projetos, a possibilidade de projetar soluções para as demandas do dia a dia, em especial para comunidades e grupos invisibilizados, também motiva a busca pelo curso.
Emerson Rafael Galli da Silva formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela URI Erechim no dia 07 de janeiro de 2023 com outros 18 colegas e a data, importante para ele, tornou-se também um marco para a categoria. Emerson é o primeiro profissional surdo formado em Arquitetura e Urbanismo no Rio Grande do Sul que se tem conhecimento. Ele procurou por outros profissionais da área surdos no Estado e localizou um outro acadêmico, ainda não graduado, na UniRitter.
“O começo da graduação foi bastante solitário, pois eu era o único surdo na sala de aula. Faltava contato com colegas e professores. Eles não tinham experiência”, comenta. O sonho de ser arquiteto e urbanista e promover acessibilidade para surdos exigiu dedicação, aulas de reforço, apoio familiar e um movimento que não dependia só dele, mas de o reconhecerem como um colega e aluno com as mesmas capacidades, porém com uma comunicação distinta.
Libras: a língua materna dos surdos
Assim como a Língua Portuguesa é primária entre brasileiros ouvintes, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é primária entre surdos. A presença de profissionais tradutores e intérpretes é fundamental, assim como ocorre em caso de desconhecimento de outras línguas, para garantir a acessibilidade comunicativa (Lei nº 10.436/2002).
Veranice Galli*, mãe de Emerson, é professora de Libras e intérprete da URI. “Acompanhei o Emerson no primeiro e no último semestre da faculdade. No começo, achavam que por ser mãe eu daria as respostas para ele nas provas. Só que quem estudava e fazia os projetos era ele. O mérito é todo dele”, celebra.
A importância da imagem
Para pessoas surdas, o uso de recursos visuais é muito importante. Emerson comenta que, a partir do segundo semestre da faculdade, colegas e professores começaram a perceber as diferentes necessidades na aprendizagem e a fazer as adaptações para que as aulas se tornassem cada vez mais acessíveis. “É preciso repensar as metodologias de ensino, pois o surdo é muito visual. Quando eu via as imagens, eu entendia muito melhor”.
A arquitetura a serviço da saúde
Seu Trabalho Final de Graduação (TFG), sob orientação da professora Kelly Pavan, foi nota 10. Ele é autor do projeto “Liberté – Clínica Especializada no Atendimento de Pessoas com Deficiência”, que visa promover saúde por meio da arquitetura e proporcionar respeito à condição e característica da pessoa com deficiência a partir de conceitos da neuroarquitetura.
“O meu projeto é diferente: projetei espaços para cada necessidade. Não há clínica igual no Brasil. No meu caso, por exemplo: como um médico vai salvar minha vida em caso de urgência ou de acidente se ele não sabe Libras? A minha deficiência não é visível. Quando vamos ao médico, precisamos conversar, falar sobre nossas dores, entender as doenças. São questões particulares. Eu vou precisar estar sempre junto com a minha mãe? O surdo precisa ser independente”, explica Emerson, que em seu projeto buscou eliminar as barreiras arquitetônicas, de comunicação, de acesso físico e de equipamentos com foco no bem-estar dos usuários.
Planos para o futuro
“Eu não fico esperando pelos outros. Sempre fiz os meus projetos sozinho”, reforça com orgulho o profissional graduado. Junto à faculdade, Emerson teve uma experiência de estágio de nove meses e pretende seguir estudando. “A formatura só não basta. Preciso adquirir mais conhecimento e me aperfeiçoar cada vez mais com uma pós, um mestrado. Meu objetivo é estudar neurociência, pois tenho interesse em neuroarquitetura”.
Por um ensino mais acessível para todas e todos
“Hoje eu sou exemplo. Sou arquiteto e urbanista e mostrei que o surdo tem capacidade. Todas as pessoas com deficiência têm capacidade. Espero que as pessoas abram mais a mente e que os desafios não as façam desistir. Desistir não é opção”, reforça.
Ao ser questionado sobre o que precisa mudar para que ainda mais pessoas com deficiência possam se sentir acolhidas pelo processo de aprendizagem da Arquitetura e Urbanismo, ele destaca a transformação da metodologia de disciplinas como cálculo e estruturas; tornar as aulas mais visuais e menos textuais ou explanatórias; disseminar o ensino de Libras para estudantes e professores; a busca voluntária das pessoas por mais conhecimento sobre acessibilidade e os tipos de deficiência.
Acessibilidade é direito da pessoa humana e eliminar barreiras por meio de soluções estratégicas é trabalho de profissionais de Arquitetura e Urbanismo. Ao promover a acessibilidade de comunicação e de ir e vir com qualidade e segurança, as pessoas com deficiência estarão cada vez mais independentes, integradas à sociedade e presentes nas universidades gaúchas e brasileiras.
Galeria de imagens | Liberté
7 respostas
Gabriela:
Querida, ficamos lisonjeados e emocionados com a matéria. Muito obrigada pela divulgação, ficou MAGNIFICA. Gratidão.
Gabriela:
Querida, ficamos lisonjeados e emocionados com a matéria. Muito obrigada pela divulgação, ficou MAGNIFICA. Gratidão.
Tenho Muito orgulho do Emerson, pois fui testemunha do seu esforço e dedicação ao longo do seu curso.
Tenho Muito orgulho do Emerson, pois fui testemunha do seu esforço e dedicação ao longo do seu curso.
Desejo sucesso pleno ao colega Emerson. Ele mostrou que uma pessoa com deficiência tem capacidade e pode contribuir muito bem para a nossa sociedade. Que ele seja muito feliz na carreira. Um abraço!
Desejo sucesso pleno ao colega Emerson. Ele mostrou que uma pessoa com deficiência tem capacidade e pode contribuir muito bem para a nossa sociedade. Que ele seja muito feliz na carreira. Um abraço!
Parabéns, Emerson! Sou arquiteto e surdo também e fico muito feliz pela sua luta e deu uma grande visibilidade para os profissionais desse conselho de Arquitetura! Sou mestre em desenvolvimento urbano e conte comigo o que precisar! Abraços, Marcelo Pedrosa, idealizador da Legenda Nacional.