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Os profissionais de Arquitetura e Urbanismo gaúchos estão conquistando o país! Nas últimas semanas, arquitetos do Rio Grande do Sul receberam Menção Honrosa em dois concursos de nível nacional. Um dos concursos foi promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Tocantins (CAU/TO), com o objetivo de selecionar a melhor proposta de Estudo Preliminar de Arquitetura para a construção da sede do Conselho. A equipe composta por arquitetos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina conquistou Menção Honrosa na competição. Integraram a equipe os arquitetos Eduardo Baptista Lopes, Nedilo Xavier Pinheiro Junior, Marcelo Galafassi, Eduardo João Berté e Carolina Rocha Carvalho.
O outro concurso de nível nacional que também teve gaúchos em evidência foi promovido pela incorporadora Weefor Arq, de Curitiba. A proposta do “1º Aberto de Arquitetura” foi selecionar a contratação do projeto arquitetônico para o empreendimento residencial que será construído pela empresa. A iniciativa contou com o apoio e a chancela da AsBEA/PR, que assumiu a organização do concurso. A equipe de arquitetos formada pelos gaúchos Eduardo Baptista Lopes e Nedilo Xavier Pinheiro Junior e pelos catarinenses Eduardo João Berté e Gustavo Peters de Souza, conquistou Menção Honrosa na premiação.
O arquiteto e urbanista Eduardo Baptista Lopes, que participou das duas equipes, nos contou como foram essas experiências. Confira!
O que objetivou a participação de vocês nestes concursos?
A maioria de nós atua como docentes na área de Arquitetura e Urbanismo, mas paralelamente também desenvolvemos projetos de arquitetura de forma autônoma, participando, inclusive, de concursos de projeto. Procuramos participar dos certames como forma de captação de projetos, mas, principalmente, como forma de exercitar a boa arquitetura, fugindo das obviedades e burocracias que o mercado costuma exigir.
Como foram desenvolvidos esses projetos premiados?
O projeto do memorial foi amplamente discutido em equipe, e utilizamos diversas ferramentas projetuais, de brainstorms a maquetes físicas, virtuais, croquis, fotomontagens de estudo. Lançamos diversas propostas e testamos todas elas com muitas de críticas de todos os membros da equipe, até encontrarmos a resposta que mais atendia, aos nossos olhos, aos critérios do edital e do que acreditamos como boa arquitetura. Já o concurso do CAU/TO foi um pouco mais complicado: como moramos em cidades distintas, isso, por vezes, dificultou as reuniões presenciais. Mas usamos outras alternativas de comunicação para as discussões de projeto, como WhatsApp, telefonemas, Skype e acesso aos arquivos na nuvem. Ainda assim, as decisões sempre foram tomadas de forma democrática entre a equipe.
Quais foram os diferenciais dos projetos?
A proposta para o concurso do CAU/TO destacou-se das demais ao resgatar o uso do bloco cerâmico maciço na fachada, disposto de forma parametrizada, remetendo ao trançado indígena característico do Estado. Além disso, foi resolvido através de uma modulação espacial e estrutural que organizou racionalmente as funções, criando ao mesmo tempo espacialidades interessantes, com o uso do pé-direito duplo na entrada, os pátios externos ajardinados, e os filtros de luz oportunizados pelo cobogó cerâmico. Por fim, o uso do recuo do térreo e a criação de uma colunata que protege os pedestres e convida à entrada.
Quanto ao concurso do Memorial Weefor, ao desenvolvermos o projeto, repensamos todos os espaços, todas as funções do edifício, buscando sempre o inovador. Assim, o projeto se destaca por sua fachada dinâmica e flexibilidade dos apartamentos. No entanto, mais importante do que isso, foi a crítica que fizemos aos espaços de uso comum do edifício, e como podíamos transformá-los em áreas ainda mais vivas e produtivas. Dessa forma, surgiu a ideia de espaços de permanência nas circulações horizontais, o uso da cobertura como estufa para hortas orgânicas e aeroporto de drones. Os salões de festas, academias e outras áreas não ficam mais concentradas apenas em um andar, mas estão dispersas em vários pavimentos, incitando as relações sociais; e a garagem vista agora como área flexível, com a possibilidade de implantar nas vagas áreas de escritórios, oficinas, ateliers, entre outros, caso o morador não queira usar sua vaga para empilhar carros.
Como vocês avaliam a realização de concursos de arquitetura no Brasil?
Os concursos de projeto no Brasil ainda ocorrem de maneira muito tímida, com poucas edições, apesar do trabalho incessante do CAU em fomentar a modalidade de concurso para contratação de edifícios públicos. Ainda assim, acreditamos que é importante fomentar também o uso de concursos públicos para a contratação de projetos da esfera privada, que na maioria das vezes responde à anseios do mercado baseado apenas no lucro, principalmente no setor imobiliário. Há pouca inovação e muitos bloqueios para a boa arquitetura ser aplicada no mercado imobiliário, muitas vezes por desconhecimento dos investidores. Talvez a adoção de concursos abra as portas para a boa arquitetura entrar novamente, quebrando paradigmas e, principalmente, a frase mais preconceituosa e superficial que escutamos: a de que essa solução “não vende”.
Confira a seguir imagens do projeto feito para o Memorial Weefor: