Getting your Trinity Audio player ready...
|
As cidades representam 2% da superfície do planeta. A informação trazida pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas em reportagem no ArchDaily sobre o congresso “Arquitetura: Mudança Climática”*, reforça o quanto é possível e necessária a expansão do mercado da arquitetura no Brasil e no mundo. “Temos que mirar mais além, nos concentramos demais no desenvolvimento do entorno urbano esquecendo um pouco o campo”, afirmou Koolhaas. O futuro consiste, comentou ele, em intervir em “espaços descampados, semiabandonados, pouco povoados, por vezes mal conectados”.
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS) conversou com os arquitetos e urbanistas gaúchos Augusto Portugal e Celestino Rossi sobre o mercado da arquitetura rural. Confira a seguir.
Arquitetura rural e economia do agronegócio
Augusto Portugal, arquiteto e urbanista especialista em Planejamento Estratégico do Desenvolvimento, explica que o agronegócio é o setor da economia com melhor desempenho no Brasil, pois representa 23% do PIB do país. “Este crescimento se dá por três fatores prioritariamente: inovação tecnológica, empreendedorismo e integração das cadeias produtivas. Só a segunda pode representar aumento de área de produção no campo. As outras duas repercutem em produtividade. Ou seja, muito mais resultado para a mesma área”, defende.
“O agronegócio é uma cadeia completa que começa na produção de insumos, passa pelos agricultores e pecuaristas que produzem no campo, vai para a agroindústria de toda a natureza e se completa com os distribuidores e varejistas”, conta Portugal. Segundo ele, há oportunidades para a arquitetura em todas essas etapas, em menor ou maior escala.
Possibilidades de mercado
Para o arquiteto e urbanista Celestino Rossi, é possível atuar em áreas como indústria de transformação, armazenagem de grãos, setor vitivinícola e agropecuário, administração e sede de fazendas, principalmente no Rio Grande do Sul, estado com forte vocação agropecuária. O desafio é aproveitar as oportunidades do agronegócio para a capacitação profissional. “O setor possui exigências legislativas, sanitárias e fitossanitárias para produção de produtos e alimentos e está sempre em busca de qualidade para satisfazer o mercado interno e externo”, ressaltou Rossi.
A economia incentivada pelo agronegócio abre oportunidades para edificações de cunho turístico, como pousadas, hotéis e restaurantes, assim como a integração desses espaços em áreas de produção e coxilha. “É um mercado em franco desenvolvimento e com grande potencial”, comenta.
Ele ainda destaca outros espaços a serem ocupados por arquitetos e urbanistas. “O Centro-Oeste do país está com grandes oportunidades de projeto, principalmente nas áreas de fronteira agrícola dos estados de Goiás e Mato Grosso. Os megaterminais graneleiros – para transporte de carga a granel – também devem aliar engenharia de transporte com arquitetura, sendo possível desenvolver complexos que atendam melhor as demandas desse setor que não para de crescer”.
Assim como acontece no desenvolvimento de projetos urbanos, o trabalho em equipe é fundamental também na arquitetura rural, que abriga diferentes áreas de conhecimento. “Quando efetuei uma especialização em vitivinicultura, uma paixão, era o único arquiteto e urbanista em um meio acadêmico composto por enólogos e engenheiros agrônomos. Após algumas garrafas de bons vinhos nos tornamos uma equipe, e até hoje me valho de consultorias com enólogos para o desenvolvimento dos projetos”, contou Celestino Rossi.