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Cidades para quem?

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A arquiteta e urbanista Gisela Mendez na sessão temática “Mobilidade: democratização e acesso à cidade”. | Foto: Israh Ramos

“A decisão mais fácil é não fazer nada. Precisamos de uma massa crítica de pessoas que querem mudanças”, declarou a arquiteta mexicana Gisela Mendez durante a sessão “Mobilidade: democratização e acesso à cidade”, apresentado no 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos. A sessão também contou com a participação de Emilio Merino, integrante da Comissão Especial de Política Urbana e Ambiental (CPUA) do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS). A mediação ficou a cargo do arquiteto e urbanista Julio Celso Vargas, professor do Departamento de Urbanismo na UFRGS. 

Mobilidade e direito à cidade

Fundadora da Ensamble Urbano, consultoria que atua na criação de soluções urbanas coletivas, Gisela afirma que a mobilidade no México é fundamental para se entender a desigualdade do país, onde 55% das pessoas utilizam transporte público, 16% veículos particulares e 29% vão a pé ou de bicicleta. A palestrante destaca que uma das maiores despesas das famílias do México é voltada para questões de transporte, perdendo apenas para a alimentação. 

“Quantos de vocês caminham pelas ruas com os cinco sentidos em alerta, com medo de sofrerem algum tipo de violência? Quantos de vocês colocam a chave entre os dedos para se sentirem seguros enquanto andam em ruas escuras?”. Após muitas mãos femininas serem erguidas, a sessão foi conduzida para reflexões sobre gênero. A arquiteta informou que oito a cada dez mulheres mexicanas já foram vítimas de violência sexual nas ruas. “Cada vez mais mulheres estão tomando decisões difíceis para a mobilidade urbana, porque são elas que mais necessitam desse cuidado”, destacou.

Dando seguimento ao painel, o arquiteto e urbanista peruano Emilio Merino resgatou o Artigo 6º da Constituição de 1988, que garante aos cidadãos os direitos sociais, como educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia e transporte. O também conselheiro do CAU/RS valoriza as manifestações sociais da população, afirmando que todos devem cobrar seus direitos ao governo.

De acordo com Merino, o acesso à cidade é um parâmetro para medir as desigualdades da sociedade no território urbano. Além disso, é fundamental que as cidades sejam pensadas por profissionais da Arquitetura e Urbanismo. “Precisamos resgatar o urbanismo”, afirma. Como medidas de combate à desigualdade, ele cita a implantação de redes de transporte integradas e multimodais, como a liberação do uso de bicicletas nos trens, tarifa socialmente justa e investimentos tecnológicos em transportes públicos. “Pela primeira vez na história brasileira, o povo gasta mais em transporte do que em alimentação. Por isso, trabalhar o transporte público é trabalhar em acessibilidade e melhorias de vida.”

A questão de gênero nas cidades

O Salão de Atos da UFRGS também foi palco de discussões sobre mobilidade. A sessão temática “Mobilidade e a Questão de Gênero” contou com a presença da arquiteta colombiana Viviana Tobon Jaramillo, do jornalista Marcos de Souza e da arquiteta e urbanista Danielle Hoppe. A mediação ficou a cargo da arquiteta Josélia Alves.

Da esquerda para a direita: Danielle Hoppe, Viviana Tobon Jaramillo, Marcos de Sousa e Josélia Alves. | Foto: Marcos Pereira

Viviana Tobon Jaramillo, integrante da Diretoria de Mobilidade da Área Metropolitana do Valle de Aburrá, na Colômbia, abriu a mesa apresentando estatísticas e a realidade das mulheres nas cidades colombianas. Elas realizam viagens mais complexas, destinadas aos filhos, trabalho, estudo e compras rotineiras. Além disso, caminham e dependem mais de transporte público. “As cidades precisam de espaços dignos para caminhadas, e as elites que tomam decisões sobre a cidade são aquela minoria que não caminha, vai só de carro para os seus destinos.” Como alternativas para garantir o melhor fluxo urbanístico e mais segurança para as mulheres, Viviana apresentou dois projetos: Biciescuela e Corredor Verde la Picacha. “É importante estar, viver e sentir a cidade. Não importa se você vai de carro, moto, bicicleta ou com seus próprios pés. O que importa é se sentir cômodo e seguro em sua cidade”.

A arquiteta e urbanista Danielle Hoppe, do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), apresentou o primeiro estudo sobre mobilidade e gênero do Brasil, realizada em Recife (PE). Com o objetivo entender de sugerir políticas públicas sobre o tema, a pesquisa mostra que gênero, raça e renda influenciam muito na mobilidade urbana. Mulheres têm tripla jornada e, além disso, 55% dos bairros de Recife não possui creche pública, resultando em inúmeros deslocamentos ao longo do dia. Danielle também relembra sobre a violência nas ruas. “Um planejamento responsivo tem que reconhecer que existem diferenças entre os gêneros: quem são as mulheres com mais vulnerabilidade e que têm dificuldades ao acesso a cidade?”, questionou.

Para finalizar a mesa, o jornalista Marcos de Sousa, diretor de conteúdo e coordenador de campanhas do portal Mobilize Brasil, apresentou o relatório final da pesquisa Calçadas no Brasil, realizada com o objetivo melhorar a mobilidade a pé nas cidades do país.

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