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Entrevista | Tania Bertolucci – A Arquitetura ainda é jovem: temos muito a fazer

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Tania Bertolucci
A arquiteta, hoje apaixonada por interiores, Tania Bertolucci.

Tania Bertolucci nasceu em Porto Alegre. Completou o primário em uma escola pública e o ginásio e o colegial no Colégio de Aplicação da UFRGS. A escolha pela graduação em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) chegou com alguma dúvida. Jornalismo seria uma outra opção. Mas logo veio o primeiro vestibular, em 1973, e a decisão estava tomada. “Sempre gostei de imaginar a casa das pessoas. Quando criança, gostava de pensar na distribuição dos espaços”, destaca.

Apesar disso, Tania não se imaginava trabalhando com arquitetura de interiores residenciais e corporativos durante a faculdade. Hoje, possui escritório próprio especializado no setor com 35 anos em atividade.

Acompanhe a entrevista completa com a arquiteta e urbanista Tania Bertolucci, uma das finalistas do concurso “Imagem da Capa 2016”, promovido pela AAI Brasil/RS – Associação de Arquitetos de Interiores do Brasil no Rio Grande do Sul.

Entrevista | Tania Bertolucci – A Arquitetura ainda é jovem: temos muito a fazer

CAU/RS: Tania, após a definição do curso, quais áreas despertaram teu interesse na Arquitetura e Urbanismo? Houve algum professor ou professora marcante?

TB: Eu cursei Arquitetura e Urbanismo na época da ditadura militar. Tínhamos muitos professores afastados e o Diretório Acadêmico estava fechado. Eram tempos complicados. Mas trago ótimas lembranças dos colegas! Formamos grupos de estudo para além da faculdade. Projetos executados a muitas mãos! Bons tempos!

Tenho uma excelente lembrança do arquiteto Py Gomes da Silveira. Ele foi coordenador de diplomação no meu semestre e também o maior crítico do meu projeto. Com isso, aprendi muito mais. Py me mostrou com profissionalismo e conhecimento os caminhos a seguir.

Também tenho especial carinho pelo senhor Olívio que nos auxiliava na maquetaria! Ele me salvou de vários problemas, abrindo o atelier para trabalharmos em horários diferentes e mostrando técnicas que não dominávamos.

“Entendo arquitetura como uma forma de traduzir e materializar expectativas. Gosto de pensar que com um bom projeto podemos modificar e melhorar a vida das pessoas.”

CAU/RS: Mulheres são a maioria dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo em atividade no Rio Grande do Sul. Para você, o que atrai tantas mulheres na escolha desta profissão?

TB: Arquitetura trabalha com pessoas: sejam clientes, sejam fornecedores. Tratamos diariamente com os mais variados sonhos, por isso me parece que atrai as mulheres: gostamos de relacionamentos! Embora eu não goste de rotular o que é “coisa de mulher”, pois não vejo diferenças significativas de gênero, penso que somos mais intuitivas, mais sensíveis e atentas aos desejos alheios e isso nos ajuda na profissão.

Entendo arquitetura como uma forma de traduzir e materializar expectativas. Gosto de pensar que com um bom projeto podemos modificar e melhorar a vida das pessoas.

CAU/RS: Você sente algum preconceito no cotidiano profissional por ser mulher?

TB: Hoje sinto pouco preconceito, realidade muito diferente de 35 anos atrás. Quando iniciei, era bem complicado entrar numa obra. Uma jovem arquiteta era recebida com desconfiança e algumas vezes descaso pelo pessoal de obra. Lugar de mulher era em casa! Foi preciso provar que eu sabia o que estava fazendo.

Lembro das primeiras reuniões com engenheiros para tratar de projetos que me faziam perder o sono na noite anterior. Com o tempo, aprendi a entender melhor os trabalhadores e hoje me orgulho de manter um bom relacionamento com engenheiros, empreiteiros, etc. Tenho entre meus clientes colegas arquitetos e engenheiros que me deixaram lisonjeada com a confiança no meu trabalho.

CAU/RS: Ainda sobre mulheres, admira o trabalho de alguma arquiteta e urbanista em especial?

TB: Adoro o trabalho da Zaha Hadid! Ela é minha inspiração permanente. Grande profissional com projetos marcantes, inovadores e repletos de poesia. Traduz o que poderíamos falar de projetos femininos: força e sutileza em harmonia.

CAU/RS: Tania, algum projeto já marcou a tua carreira? Por quê?

TB: Tenho alguns projetos que marcaram minha trajetória profissional, desde primeira casa ainda, em 1980, até o projeto mais recente para uma residência em Porto Alegre onde não só elaboramos o projeto arquitetônico como acompanhamos a execução e desenvolvemos o interior em todos os detalhes (luminotécnica, desenho de móveis, escolha de equipamentos, etc.). É muito gratificante acompanhar todas as etapas de um projeto, pensar na casa como um todo.

Hoje, no escritório, somos mais profissionais para cuidar de todas estas etapas e o contato com estudantes e jovens arquitetas me renova e ensina diariamente. Me realiza o contato com diferentes pessoas, diferentes objetivos e necessidades. Cada dia é um novo desafio! Gosto de novidades e a possibilidade de reinventar a profissão a todo momento me encanta.

CAU/RS: Hoje, o que te realiza como profissional?

TB: Cada novo projeto é um leque de possibilidades! Um cliente satisfeito é minha realização e objetivo diários.

CAU/RS: Por fim, é possível indicar algum caminho para a Arquitetura e Urbanismo? Como mulher, alguma orientação para as meninas que estão começando no curso ou para as que tem desejo de se profissionalizar na área?

TB: Arquitetura e Urbanismo é uma profissão jovem! Temos um grande horizonte pela frente. O trabalho em equipes multidisciplinares descortina grandes novidades e vejo muitas possibilidades: na área da sustentabilidade, na área do retrofit, na valorização dos espaços urbanos, no coletivo. Temos muito a fazer.

Para as jovens arquitetas, minha certeza que elas contribuirão com sensibilidade e sutileza para transformar nossas cidades, nossas casas e escritórios em lugares melhores para viver. Acredito na força das mulheres, no senso de coletivo que elas têm, no respeito à vida do planeta e de cada ser vivo. Isso vai se traduzir em mais qualidade de vida para todos.

Meu conselho: estudem, sejam curiosas e atentas aos seres vivos, respeitem o planeta. Arquitetura exige dedicação e amor! 35 anos depois, posso dizer que estou realizada com minha escolha! Não me imagino fazendo outra coisa.

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