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Artigo reproduzido pelo jornal Le Monde Diplomatique Brasil aborda a consolidação do mercado educacional como modelo de negócios e questiona: será que queremos uma educação sem professor?
Para defender o ensino de qualidade e assegurar uma profissão abrangente, a serviço de toda a sociedade, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS) lançou recentemente a campanha EAD NÃO, que alerta para os riscos do Ensino a Distância. Na última semana, o jornal Le Monde Diplomatique Brasil publicou um artigo em que aborda a transformação do ensino Ensino Superior no Brasil, impactado pela lógica de mercado e também por ferramentas como o EAD. Leia abaixo um trecho do texto.
Já há alguns anos, o crescimento das instituições de ensino superior privadas é substancial no Brasil. Entre a expansão, iniciada durante a ditadura militar e aprofundada a partir do final dos anos 1990, e o processo de mercantilização e concentração em grandes conglomerados atraídos por fartos subsídios públicos a partir dos anos 2000, fomos assistindo ao surgimento de grandes prédios, instalações confortáveis com logomarcas ainda maiores, onde milhares de estudantes confirmavam a distopia que os dados do censo da educação superior indicavam ano a ano: a hegemonia do setor privado em relação ao público. O número de matrículas nos dez últimos anos ilustra o tamanho do setor privado: em 2010 eram 1.643.298 estudantes matriculados em instituições públicas e 4.736.001 em instituições privadas, em 2020 são 1.956.352 matriculados nas instituições de ensino superior públicas, ao passo que as instituições de ensino superior privadas concentram 6.724.002, ou seja 77,5% das matrículas estão nas instituições privadas e 22,5% nas públicas (INEP, 2022).
Concentradas, predominantemente no Sul e Sudeste do país, nas regiões centrais ou nas proximidades de estações de metrô, essas instituições atraíram a juventude trabalhadora que ansiava alguma mobilidade social e econômica por meio do curso superior. Tal anseio encontrava lastro no discurso da democratização do acesso por meio, sobretudo, dos programas de incentivo federal como o Prouni e Fies.
No entanto, a democratização do acesso e o consequente crescimento do setor privado de ensino superior não significou efetiva ampliação de estudantes participando de cursos de qualidade e pedagogicamente estruturados. Tampouco, significou melhoras nas condições de trabalho para docentes e demais profissionais da educação. O que se viu, na prática, foram fusões e aquisições sucessivas ao longo dos anos, resultando no mercado de ensino superior mais concentrado do mundo, marcado fortemente pela presença de grupos e capitais financeiros de vários cantos do globo.
Resultado também de regulações frágeis, o mercado de ensino superior privado no Brasil hoje é marcado por fraudes nos programas federais de incentivo, emissão de diplomas falsos, manipulações para driblar avaliações do Ministério da Educação e meios de gestão etc.
Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil