Ações Afirmativas

Profissionais e estudantes discutem ações afirmativas em Arquitetura e Urbanismo

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O Seminário de Ações Afirmativas, realizado nos dias 06 e 07 de março, no Teatro da AMRIGS em Porto Alegre, reuniu arquitetos e urbanistas, estudantes e profissionais de outras áreas interessados em dialogar sobre os assuntos do encontro: acessibilidade, gênero, diversidade, povos originários e inclusão.

A solenidade de abertura contou com a presença de arquitetos e urbanistas representantes de diferentes esferas do CAU e entidades profissionais. Participaram o presidente do CAU/RS, Tiago Holzmann da Silva; o conselheiro federal eleito pelo Rio Grande do Sul, Ednezer Flores; a vice-presidente do CAU Brasil, Daniela Sarmento; a vice-presidente do IAB RS e representante do Colegiado de Entidades de Arquitetura e Urbanismo (CEAU-CAU/RS), Paula Motta; e o conselheiro e coordenador da Comissão Temporária de Ações Afirmativas (CTAA), Carlos Eduardo Iponema.

 

Urbanismo feminista: a cidade não é neutra

Paula Santoro iniciou sua fala compartilhando sua experiência na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) na implantação de políticas afirmativas para pessoas com deficiência, trans, pretas, pardas e indígenas. A inclusão de grupos minorizados nas universidades provoca necessidades de revisão nas formas de expressão da ciência e de produção do conhecimento.

“A gente vê uma mudança no perfil dos estudantes e essa mudança provoca o ensino do urbano. A cidade não é neutra e determinados grupos não vivem a cidade da mesma maneira. Como é que eu, que nunca morei em uma favela, vou falar sobre favela para alguém que nasceu e morou a vida inteira em uma? Como fazê-los ser parte e não colonizá-los?”, questionou.

Carlos Eduardo Iponema, Paula Santoro e Carline Carazzo | Foto: Studio Feijão e Lentilha

A pesquisadora avançou para recortes de gênero e raça, com um apanhado histórico, até chegar ao Urbanismo Feminista e à cidade do cuidado, que deve atender em especial às demandas das mulheres. “As famílias mudaram, as casas mudaram. A maioria das famílias é formada por unidades monoparentais, lideradas por mulheres. Quem vai cuidar de quem se nós estamos ficando sozinhas no final da vida?”.

É papel dos profissionais de Arquitetura e Urbanismo projetarem espaços e cidades que cuidem de todas e todos. Acompanhe a palestra na íntegra:

 

Acessibilidade e inclusão para todas as pessoas

A integrante da CTAA, Flávia Licht, iniciou a explanação abordando a importância de pautar inclusão e acessibilidade no universo da Arquitetura e Urbanismo, defendendo que “a escolha de construir um lugar com acessibilidade ou não, é de um arquiteto”. Ela utilizou de exemplo a própria estrutura do palco onde estava: “quando há duas escadas laterais para o palco, e uma pessoa que não tem condições de subir escadas precisa entrar pelos fundos do palco, há uma divisão da sociedade”.

A jornalista Lelei Teixeira, defensora da pauta do nanismo e da pessoa com deficiência, destacou que é movida pelo desejo de viver em uma cidade inclusiva, diversa, acessível, saudável, generosa e bonita, que ofereça o máximo de autonomia a todos os seus moradores. Ela também pontuou a importância da Lei de Acessibilidade, provocando o público presente a refletir sobre a efetividade e amplo conhecimento da existência da regulamentação. 

Flávia Licht e Lelei Teixeira | Foto: Studio Feijão e Lentilha

Durante a explanação referente à fala da Regina Cohen, Flávia e Lelei pontuaram a mudança no termo mais adequado para se referir às pessoas com deficiência. No passado, utilizava-se o termo “portadores”, até que se percebeu que portar refere-se a objetos e que a deficiência deve ser entendida como parte de alguém.

Patrimônio histórico também foi pauta da inclusão, quando as palestrantes propuseram a reflexão sobre os grandes pontos turísticos e históricos do mundo, e quão acessíveis eles são para pessoas com deficiências físicas ou visuais, por exemplo. Nesse sentido, concluiu-se que quando um patrimônio histórico não tem acessibilidade, ele é um patrimônio apenas de alguns, e não de toda a sociedade. “O direito à cidade também passa pelo direito das pessoas com deficiência”, destacou Flávia.  

 

Arquitetura e humanismo: demarcação já

A última palestra do evento recebeu virtualmente o arquiteto e urbanista e indigenista Igor de Vetyemy. Ele iniciou sua fala apresentando sua família e a necessidade que sentiu de iniciar sua militância na comunidade LGBTQIAP+. Após sete anos, ele e seu marido conseguiram adotar seu primeiro filho. 

Igor destacou: “Você não precisa ser gay para lugar para lugar contra a homofobia, negro para lutar contra o racismo, mulher para lutar contra o machismo, trans para lutar contra a transfobia. Você só precisa ser humano. Nós podemos e devemos falar sobre outros assuntos”.

Karolina Silva de Jesus (IAB RS) e Carline Carazzo | Foto: Studio Feijão e Lentilha

Sua história com os povos originários começou aos 30 anos, quando conheceu um indígena  em um fórum. Ele era um aluno de Direito. “Eu fui conversar com ele e disse como era impressionante que eu, até aquele momento, jamais tivesse conversado com um indígena. Ele comentou que morava na cidade, mas ia visitar a aldeia em duas semana. A convite dele, eu fui conhecer”.

Foi assim que a aproximação com a aldeia ocorreu. As crianças o chamam de professor, e esse é seu nome da língua Pataxó. Com os adultos, a conexão se deu através da arquitetura. Com jovens, a partir do esporte. O programa de educação continuada desenvolvido pelo arquiteto e urbanista da aldeia aproxima estudantes de Arquitetura e Urbanismo da cultura indígena. “Aprender as técnicas de construção das casas na aldeia é quase uma desculpa para trazer os estudantes para essa revolução que um dia eu vivi ao ter contato com essa cultura”.

 

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