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CAU/RS divulga nota sobre desabamento da Casa do Imigrante

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Casa do Imigrante | Foto: Museu Histórico Visconde de São Leopoldo

Parte da Casa do Imigrante desabou na manhã da última terça-feira (05/03). O prédio, localizado no município de São Leopoldo, abrigou os primeiros imigrantes alemães do país em 1824. A casa foi transformada em museu no ano de 1984 e tombada como patrimônio histórico desde 1992, mas estava fechada para visitação devido a problemas estruturais no telhado. De acordo com a Prefeitura Municipal de São Leopoldo, haviam projetos de restauração encaminhados e em fase de captação de recursos.

Com o objetivo de promover e proteger o patrimônio arquitetônico, urbanístico e paisagístico do Rio Grande do Sul, a Comissão Temporária de Patrimônio Histórico (CTPH) do CAU/RS lamenta o ocorrido. Em nota, a CTPH manifesta sua preocupação com o descaso relacionado aos prédios históricos do país. Leia na íntegra a nota assinada pelo arquiteto e urbanista Lucas Bernardes Volpatto:

Antiga sede da Secretaria de Educação de Pelotas | Foto: G1/RS

Em menos de um mês já tivemos dois bens agredidos, dois graves sinistros que ameaçam o nosso acervo de patrimônio cultural edificado. Em Pelotas, famosa pelo seu patrimônio, tombada nacionalmente por sua arquitetura e registrada como patrimônio imaterial pela sua cultura, costumes e saberes, uma edificação que já foi sede de uma secretaria municipal, construído no início do século XX e abandonada por oferecer riscos a população mesmo sendo inventariada desde 2002, sucumbiu ao fogo pelo esquecimento. Agora, foi a vez do berço da colonização alemã no Brasil, uma edificação tombada pelo Estado, do início do século XIX que no momento padece sobre escombros e sobre eminente ameaça de ruir.

O desabamento de parte da antiga estrutura da antiga Real Feitoria do Linho Cânhamo em São Leopoldo nos serve de alerta pois o pior ainda não aconteceu, mas está por acontecer… Está por acontecer não somente em São Leopoldo, mas em cada município deste Estado e deste País em que possuindo patrimônio edificado legalmente reconhecido, continue sendo negligente por desinformação, burocracia das administrações ou simples desinteresse inclusive da própria população. A cada edifício ignorado uma nova ameaça se instaura contra o nosso patrimônio edificado e contra a nossa memória.

Importante salientar que preservar o patrimônio faz parte da cidadania, para isso é necessário encarar as dificuldades afim de resolve-las de forma coletiva e efetiva.  Se faz necessário que as pessoas se apropriem do patrimônio que lhes pertence de modo que se sintam verdadeiramente “donos”, conhecedores de sua história e fazendo parte dela, sentindo-se responsáveis por repassa-la as próximas gerações e sendo agentes pela sua conservação e manutenção principalmente como protetores destes edifícios que são verdadeiras testemunhas de nossa existência como comunidade.

No caso da Casa da Feitoria, como é popularmente conhecida, a edificação foi testemunha do plantio do cânhamo Real da coroa Portuguesa, do uso da mão de obra escrava e da imigração germânica promovida pelo império e todos os seus desdobramentos. Tão importante edificação mais do que nunca, encontra-se   ameaçada, pois parte dela desabou e mesmo existindo projetos de restauração e de renúncia fiscal aprovados pelos órgãos competentes as atuais dificuldades de captação e execução são cada vez maiores perante ao cenário atual em que vivemos. Vazia e abandonada por não proporcionar qualquer habitabilidade, a edificação histórica desaba como um ato de pedido de socorro.

Mais do que achar culpados, é preciso olhar para frente, salvar o que resta e pesquisar exaustivamente a melhor solução de salvaguarda e de intervenção para uma restauração certeira com minimização de equívocos, uma intervenção capitaneada por equipes multidisciplinares e capacitadas com profissionais que dominem as técnicas de intervenção necessárias e mais do que nunca, planejar e prever a permanência e a preservação do bem tombado   as gerações vindouras.

Preservar é um ato cidadão. Não se perde somente pelas demolições, mas também pelas descaracterizações, pelos erros conceituais de projetos e intervenções equivocadas… pela falta de vontade política… pelas fatalidades ocasionadas pela negligência. Sem a preservação, a memória das cidades vai sumindo, os lugares que somem se tornam verdadeiros vazios. Não podemos deixar a cada catástrofe um pedaço de nossa história se consumir pelo acaso. Sejamos cidadãos, salvemos nossa memória e o nosso patrimônio.

Lucas Volpatto, arquiteto e urbanista integrante da Comissão Temporária de Patrimônio Histórico do CAU/RS

Uma resposta

  1. Bom dia
    Ressalvo que embora mais recente o CAU demostra semelhança com os demais infinitos Orgãos (Conselhos, Agencias e outros tantos) criados sobre a falsa justificativa de atuar na DEFESA DA SOCIEDADE.
    Chegam sempre depois dos acontecimentos. Vir na mídia fazer discurso depois do ocorrido é mero oportunismo. No caso dos predios em pauta toda comunidade sabia da situação de abandono e desleixo do poder publico local. Um Órgão como o IPHAN que leva no minimo um ano para responder um oficio. Levam 5 anos para avaliar um projeto. A sociedade esta desprotegida, lamentavelmente e o CAU esta se inserindo nesta gama de instituições que só servem como cabide de emprego para os seus e para arrecadar. LAMENTÁVEL.

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