Artigo

A Estética Arquitetônica do Horror

O presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA/RS), Vicente Brandão, publicou um artigo no jornal Zero Hora, na edição do último final de semana. O texto aborda o impacto da guerra da Ucrânia na Arquitetura e Urbanismo.

A AsBEA é integrante do Colegiado de Entidades de Arquitetura e Urbanismo (CEAU-CAU/RS).

Leia abaixo a íntegra do artigo:

A Estética Arquitetônica do Horror

Vicente Brandão*

As imagens do ataque russo aos prédios de Kiev, com des­truição parcial de edifícios on­de havia vida normal, trazem a reflexão sobre o mais íntimo dos nossos refúgios: nosso lar.

Edifícios residenciais bem­ construídos, com estruturas fortes de concreto e aço, que outrora abrigaram famílias em apartamentos, protegendo-as dos rigores climáticos e man­tendo-se firmes e íntegros, fo­ram despedaçados e viraram ruínas, inutilizados.

Na arquitetura, projetamos obras que são reflexo do seu tempo. A estética, a funcio­nalidade e o desempenho das edificações são uma resposta técnica as demandas da socie­dade e da cultura onde esta­mos inseridos.

A forma dos edifícios em ru­ínas deformados por bombas é uma forma de demonstrar a crueldade de uma guerra, o impacto visual da estética arquitetônica do horror.

Bombas em alvos militares destroem instalações, estra­das, fábricas e outros edifícios funcionais para paralisar a lo­gística e o transporte de man­timentos essenciais.

Edifícios civis são um alvo diferente. O tiro acerta em todos pelo medo. E de forma emocional, inclusive em quem não está lá na Ucrânia. Esses bombardeios acertam prédios residenciais onde podiam es­tar morando eu, você ou qual­quer morador que habita uma metrópole na Terra em 2022.

Metrópoles urbanas são cenários de vidas cotidianas, cidades planejadas dentro do possível para gerar animação e convívio entre pessoas. Cons­truídas por anos em um esfor­ço comum, superando desa­fios econômicos e ambientais. Realidade em todas as partes do mundo e também no Bra­sil. Essas cidades em guerra mostram-se vulneráveis por uma força destruidora eficien­te em criar caos e morte, um pesadelo real arquitetonica­mente renderizado nas facha­das destruídas, irreparáveis.

O ataque russo acerta o alvo ao trazer a certeza de que em uma guerra o “fique em casa” já não é seguro. Fica a espe­rança de que após esse perío­do presente de desamparo, a arquitetura encontre espaço para traduzir tempos pacíficos e de liberdade em suas futuras obras construídas.

*Arquiteto e Urbanista, presidente da AsBEA/RS

 

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