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O CAU/BR reuniu entrevistas de arquitetas e urbanistas de diversos estados para homenagear as mulheres pelo seu dia (8 de março). As entrevistas foram feitas em parceria com os CAU dos Estados e do Distrito Federal. No Rio Grande do Sul a entrevistada foi a arquiteta Vera Fabrício Carvalho. Confira o a entrevista:
Vera Fabrício: fazendo história na Arquitetura gaúcha
Arquiteta foi estimulada na profissão por ninguém menos que o escritor Érico Veríssimo
A arquiteta Vera Fabricio Carvalho formou-se em Arquitetura no Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1951. Dona do registro de nº 12 em todo o Brasil, ela é a arquiteta e urbanista em atividade há mais tempo no Rio Grande do Sul. Aos 86 anos, Vera continua à frente do seu escritório, no bairro Auxiliadora, em Porto Alegre, e não tem planos de parar de trabalhar. Ao longo dos mais de 60 anos de carreira, ela, que também foi professora da UFRGS por duas décadas, coleciona histórias e vivências únicas, que se confundem com a própria história da arquitetura gaúcha.
Confira a entrevista:
CAU/RS – A senhora nasceu no Rio de Janeiro, mas se considera gaúcha. É verdade?
VFC – Eu nasci no Rio de Janeiro, embora minha família fosse toda gaúcha. Na época meu pai, que era médico, estava trabalhando lá temporariamente. Vim para Porto Alegre aos 11 anos de idade, estudei e me formei aqui. Já sou gaúcha assumida.
CAU/RS – Como surgiu o seu interesse pela profissão?
VFC – Eu ainda estudava no colégio Bom Conselho, em Porto Alegre, e pensava em fazer química industrial sabe-se lá por que. Um dia, durante um almoço na casa de uma tia, um amigo dela que estava conosco e tinha grande sensibilidade sugeriu:
– Por que você não faz arquitetura?
Foi nesse momento que eu me dei conta de que essa era a profissão que eu seguiria. Para constar: esse amigo era o escritor Érico Veríssimo.
CAU/RS – O que todo o arquiteto e urbanista precisa saber?
VFC – Os profissionais precisam ter consciência da realidade urbana e dos problemas e desafios que o crescimento acelerado das cidades ocasionam, prezando pela qualidade de vida e sustentabilidade. Além disso, é fundamental que saibam valorizar os patrimônios históricos e toda a riqueza cultural que eles representam.
CAU/RS – Quais os maiores desafios para os novos profissionais?
VFC – Hoje em dia é fundamental estar a par das inovações tecnológicas que fazem parte do cotidiano do arquiteto e urbanista. Além disso, é preciso estar ciente de que o mercado de trabalho conta com um grande número de profissionais, o que não acontecia quando me formei, pois faltava esse tipo de profissional no mercado. Driblar essa concorrência e conquistar o seu lugar pode ser difícil e depende de muito esforço e trabalho.
CAU/RS – Como foi administrar profissão, vida acadêmica e família ao mesmo tempo? Que conselhos daria às arquitetas e urbanistas que vivenciam essa situação?
VFC – Essa questão permanece complicada, mesmo após décadas. Naquela época, contávamos com a ajuda das nossas mães, já que muitas não trabalhavam e tinham disponibilidade para auxiliar as filhas na criação dos netos. Hoje, o cenário é outro: as mães/avós, cada vez mais, trabalham até tarde, o que inviabiliza esse tipo de ajuda. Gerenciar família e vida profissional é difícil, mas não é impossível e requer muita organização pessoal.
CAU/RS – Qual projeto, em especial, marcou a sua carreira?
VFC – Foram muitos os projetos que me marcaram ao longo desses 64 anos de carreira. Entre eles, gosto de destacar a faculdade de medicina da Santa Casa de Porto Alegre, o Hospital Santa Rita e o projeto que completou o Hospital de Clínicas, na capital gaúcha. Este último foi um dos mais prazerosos, embora trabalhoso, uma vez que o prédio estava parcialmente construído, mas internamente incompleto e precisava de melhoras para facilitar o dia-a-dia das pessoas – eram 14 andares e não tinha nem elevador quando começamos. Foi uma grande honra ser indicada pela UFRGS para desenvolver o projeto e vê-lo funcionando trouxe muita satisfação a mim e a toda equipe que trabalhou comigo.
CAU/RS – A senhora tem planos de parar de trabalhar?
VFC – Não tenho uma data. Enquanto tiver saúde vou continuar atuando e, felizmente, eu tenho saúde. Gosto muito do que faço… e nem saberia fazer outra coisa depois de 64 anos de arquitetura!
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