Centro de Memória

Centro de Memória do CAU/RS: pioneirismo na gestão da informação da arquitetura gaúcha

Inaugurado em 16 de novembro de 2022, o Centro de Memória do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS) nasce como uma iniciativa duplamente pioneira. Além de ser a primeira instituição museológica do CAU em todo o Brasil, é a primeira com tutela de acervos de Arquitetura e Urbanismo que utiliza o repositório Tainacan, criado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

 

Acesse o site do Centro de Memória

 

A pedra fundamental do Centro de Memória se deu com a entrega dos documentos dos primeiros arquitetos construtores vindos do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RS), em 2015. A arquiteta e urbanista Maríndia Izabel Girardello (in memoriam), Gerente Técnica do CAU/RS na época, reconheceu o valor do material e deu início à divulgação do acervo com a exposição “MEMÓRIA – Arquiteto, registro e obra” em 2017.

Na ausência de faculdades de Arquitetura e Urbanismo, esses documentos serviam para que os profissionais comprovassem capacidade técnica e obtivessem seu registro profissional. O acervo recebido data de 1890 a 1950 e registra muitos projetos também do interior do estado. “É quase um levantamento da história do Rio Grande do Sul na área de Arquitetura e Urbanismo, um conjunto documental extremamente relevante, já que o acervo do CAU pode ser o último resquício da existência de muitos prédios”, explica Bárbara Hoch, Supervisora de Documentação e Memória do Centro de Memória do CAU/RS.

 

Patrimônio e Ciência da Informação

Atuar com patrimônio histórico e cultural é diferente de trabalhar com gestão da informação da memória da Arquitetura e Urbanismo. Assim, o grupo da Ciência da Informação, formado por arquivistas, bibliotecários e museólogos, é fundamental para a estruturação de instituições como o Centro de Memória. 

A partir do trabalho multidisciplinar desenvolvido no CAU/RS melhorias foram feitas no Tainacan e ficarão de legado para outros usuários. Um exemplo é o uso do Google Street View para exibir a edificação nos dias atuais. No acervo digital, também há imagens dos projetos, documentos e uma descrição detalhada das pranchas. Futuramente, a equipe deseja incluir os números dos registros de patrimônio das edificações tombadas.

Imagem do projeto de João Prestes de Oliveira para Abel Espellet, em Cruz Alta/RS, e da situação atual da edificação (Google Street View) | Imagem: Centro de Memória do CAU/RS

Apesar da pouca idade, o Centro tem chamado a atenção de profissionais responsáveis por instituições com 40 anos de atuação, como é o caso do Núcleo de Pesquisa e Documentação (NPD) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O professor de Arquitetura e Urbanismo na UFRJ e coordenador do NPD, Andres Martin Passaro, esteve em Porto Alegre para uma palestra e aproveitou a oportunidade para visitar o CAU/RS. O NPD possui um acervo com mais de 500 mil materiais e apenas 10 mil são digitalizados. “Todo mundo que tem acervo e vai ao Rio de Janeiro quer conhecer o NPD. Nós estamos aqui também para aprender com o bom exemplo de vocês, em especial com o uso do Tainacan”, comenta Passaro.

Passaro (ao centro) em visita ao Conselho | Foto: Ascom CAU/RS

“O acolhimento responsável, sério e qualificado de todo o acervo, hoje de valor museológico, herdado do Crea-RS, assim como a adoção de outros importantes acervos profissionais, colabora com o ensino da profissão e o desenvolvimento do conhecimento à sociedade e às novas gerações de profissionais. Preserva e disponibiliza, física e digitalmente, aos interessados pesquisadores, valorosa documentação de projetos e obras relevantes no Rio Grande do Sul, com potencial de incrementar, assim como revisar e preencher lacunas importantes sobre a história da arquitetura e urbanismo gaúchos”, enfatiza o conselheiro Fábio Müller, integrante da Comissão de Acervos do CAU/RS. 

Também integram a Comissão os conselheiros Rinaldo Barbosa e Márcia Elizabeth Martins, atual Diretora Centro de Memória do CAU/RS, e as professoras vinculadas à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Jeniffer Cuty e Márcia Bertotto.

 

CAU/RS e UFRGS: a preservação e o método científico

Comissão de Acervos analisando pranchas do acervo do arquiteto e urbanista Clovis Ilgenfritz da Silva | Foto: Ascom CAU/RS

A inspiração para realizar o movimento político e técnico necessário para a implantação do Centro de Memória foi motivada por um projeto de extensão do Curso de Museologia da UFRGS desenvolvido no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB RS). Josiane Bernardi, gerente responsável pelo projeto de desenvolvimento do Centro de Memória , explica que apesar da pausa imposta pela pandemia, o projeto avançou e o Regimento está sendo reformulado. “A ideia é que seja uma política do CAU, independentemente da gestão e das pessoas envolvidas. Um dos objetivos é também mobilizar e sensibilizar os demais Conselhos Estaduais e o CAU/SP já está fazendo isso”.

O museu é um espaço de produção de conhecimento. “No país, outras instituições que possuem acervos acabam decidindo pelo tratamento arquivístico ou, ainda, não definiram a forma de recuperação da informação. Esse é um ponto de pauta no debate nacional. A definição pela documentação museológica foi ponto defendido pela presidência e pelas pessoas diretamente envolvidas com essa implementação”, explica Jeniffer Cuty, arquiteta e urbanista e professora do curso de Museologia da UFRGS.

Desde então, detalha Jeniffer, “tem sido desenvolvido o projeto Mapeamento dos Acervos de Arquitetura no Rio Grande do Sul através de contrato celebrado entre a UFRGS, a FAURGS e o CAU/RS para a realização de atividades específicas de orientação para organização, higienização, catalogação e acondicionamento de acervos que são incorporados ao Centro de Memória”.

 

Gestão de acervos: o futuro da memória

O trabalho desenvolvido no Centro de Memória amplia as possibilidades na área da pesquisa e cria condições para que o patrimônio seja preservado através da divulgação técnica do conhecimento. Sua Política de Gestão de Acervos baliza o que é pertinente para o Conselho receber. O material com é submetido à Comissão de Acervos, que avalia, realiza triagem e decide o que é interessante agregar ou não ao acervo do CAU/RS. 

A Política de Gestão de Acervos existe também por uma constatação histórica e social pertinentes: há apenas uma mulher branca e nenhum arquiteto ou arquiteta preta no acervo do CAU/RS. Também não existem documentos referentes à arquitetura tradicional, indígena e quilombola. A maior parte se refere à produção profissional de imigrantes italianos, alemães, espanhóis, poloneses ou descendentes dessas famílias de origem europeia. 

Planta baixa do terceiro andar do Edifício Ely, localizado em Porto Alegre/RS, de autoria do arquiteto construtor Theodor Wiederspahn | Imagem: Centro de Memória do CAU/RS

Bárbara explica que o atual acervo do CAU/RS é uma herança do Crea-RS. “O Conselho recebia durante as primeiras décadas de atuação registros de homens. Foi com a doação do acervo do arquiteto e urbanista Clovis Ilgenfritz da Silva que chegou a primeira mulher, a Inês D’Ávila”.

A ausência de registro de mulheres levou a equipe do Centro de Memória a desenvolver um projeto de história oral que visa conversar com profissionais, homens e mulheres, formados nas primeiras turmas de Arquitetura e Urbanismo. A partir da criação da FAU, os documentos que eram entregues ao Crea-RS deixaram de ser necessários, pois o diploma passou a ter valor comprobatório de conhecimento técnico.

“Nós não temos o acervo de produção arquitetônica dessas primeiras mulheres. Queremos dar nome a essas pioneiras, e honrar esses nomes”, destaca Bárbara.

“A perspectiva é de seguir avançando no tratamento dos acervos (triagem, higienização, digitalização, cadastramento, descrição etc.) para ampliar significativamente número de itens disponibilizados no nosso site e permitir acesso e divulgação para profissionais, pesquisadores, estudantes e sociedade em geral, bem como fortalecer o trabalho em rede na perspectiva dos acervos e arquivos de Arquitetura e Urbanismo, tanto no Rio Grande do Sul como nacionalmente. É uma honra e um privilégio fazer parte deste valioso projeto do CAU/RS”, celebra a conselheira e Diretora Centro de Memória Márcia Elizabeth Martins.

 

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